Construção civil: cenário atual e perspectivas

Em artigo publicado pela Revista da Indústria Brasileira, Economista-chefe da Câmara Brasileira da Indústria da Construção (CBIC) fala sobre o cenário do setor

A construção civil iniciou, no segundo semestre de 2020, um ciclo positivo de novos negócios. Considerada setor essencial, não paralisou suas atividades nos momentos mais difíceis da pandemia. Diante de uma situação de isolamento social e divisão de espaço entre trabalho e estudos, as famílias ressignificaram o valor da casa própria.

As taxas de juros do crédito imobiliário, já habitualmente menores do que outros tipos de financiamento, ficaram ainda mais atrativas em função da redução da taxa básica da economia. Aliado a isso, se adaptou rapidamente ao atendimento online. Em 2021, o movimento se consolidou e os lançamentos e vendas de apartamentos novos se destacaram. Esse foi um dos fatores que levou o seu Produto Interno Bruto (PIB) a registrar a maior elevação desde 2010: 9,7% em relação ao ano anterior. Como o ciclo de produção setorial é longo, o ano de 2022 se iniciou com as atividades aquecidas.

No primeiro trimestre, o setor cresceu 0,8% – sétima elevação consecutiva – e a sinalização é de que, pelo segundo ano seguido, registrará números positivos. O último biênio de alta setorial foi em 2012-2013. De toda forma, o resultado dos três primeiros meses do ano indicou um dinamismo menor do que o que estava sendo observado.

A construção poderia ter registrado um incremento ainda mais forte em suas atividades e poderia estar com o ritmo mais acelerado, mas enfrenta, desde julho de 2020, elevação expressiva nos seus custos. Conforme o Índice Nacional de Custo da Construção (INCC), calculado e divulgado pela Fundação Getulio Vargas (FGV), de julho de 2020 até junho de 2022, o custo com material e equipamentos cresceu 52,70%. A inflação medida pelo Índice de Preços ao Consumidor Amplo (IPCA), calculado e divulgado pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), foi de 21,23%.

O forte incremento no custo dos insumos tem impedido a continuidade do ciclo de alta. Aconteceu um descasamento entre a renda das famílias e o custo de produção do imóvel, e isso está refletindo nos números de novos negócios. O crescimento de 2022 acontecerá em função do ritmo de produção iniciado nos últimos dois anos.

Nesse contexto, é importante considerar que recentes medidas relacionadas ao programa Casa Verde e Amarela – como a ampliação do prazo máximo de financiamentos de 30 para 35 anos – reacenderam os ânimos dos construtores e podem mudar o rumo das atividades nos próximos meses. No segmento de infraestrutura, as dificuldades em relação ao reequilíbrio econômico-financeiro dos contratos, em função das fortes elevações de custos, acabam prejudicando o andamento das obras.

As expectativas da Câmara Brasileira da Indústria da Construção (CBIC) apontam para um crescimento de 2,5% para o PIB do setor em 2022, resultado que poderá ser revisto diante das últimas medidas anunciadas, mas que ainda é insuficiente para o setor recompor as perdas registradas desde 2014 e que ainda é distante do necessário para o Brasil construir seu crescimento sustentado.

*Ieda Maria Pereira Vasconcelos – Economista-chefe da Câmara Brasileira da Indústria da Construção (CBIC), doutora em gestão e mestre em Administração. 

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