Dia da Propriedade Intelectual: conheça 4 peças de design brasileiras icônicas

Objetivos de Desenvolvimento Sustentável da ONU guiaram tema do ano escolhido pela OMPI

Um novo jeito de fazer tarefas cotidianas, soluções para problemas, uma referência para outras invenções: esse é o impacto da propriedade intelectual no mundo. Para chamar a atenção para esse direito que protege ideias, todo ano a Organização Mundial da Propriedade Intelectual (OMPI) escolhe um tema para guiar as ações em torno de 26 de abril, o Dia Mundial da PI.

Em 2024, a campanha é “PI e os ODS: Construir nosso futuro comum com inovação e criatividade”, em referência aos Objetivos de Desenvolvimento Sustentável (ODS) da Organização das Nações Unidas (ONU). São 17 objetivos interligados, com metas relacionadas a questões como erradicação da pobreza, saúde e bem estar e ações contra a mudança global do clima.

Ao proteger uma ideia que ganhou valor ao se tornar um produto ou processo, a PI é um motor da inovação, incentivando investimentos em pesquisa por parte de empresas e instituições. Na indústria, alguns tipos de propriedade industrial (uma das categorias da PI) são patentes, marcas, desenhos industriais e indicações geográficas.

Conheça aqui algumas peças inovadoras feitas por no Brasil que podem estar na sua casa ou em um museu em Nova York:

Um máquina de café analógica

Sabe a felicidade de sentir o cheiro do café espresso fresquinho? É possível que ela aconteça sem energia elétrica. Em 2016, o mineiro Maycon Aram, na época estudante de Design de Produto, desenvolveu o primeiro método de espresso brasileiro. A máquina analógica não precisa de energia, cápsulas nem filtro de papel.

A criação surgiu da inquietação ao perceber como era comum para as pessoas comprar produtos novos em vez de levar um que quebrou para o conserto. Esse foi o ponto de partida para reflexões sobre consumo sustentável como um todo.

Depois do protótipo desenvolvido, o projeto ganhou corpo com um financiamento coletivo e hoje conta com 20 fornecedores locais, entre artesãos e engenheiros. Já o artesão e mestre especializado em design para manufatura, Aram, recebeu alguns dos principais prêmios de design de produto no Brasil e fora, como o IF Award, Prêmio Design Museu da Casa Brasileira, Salão Design, IDEA Brasil e Prêmio Brasileiro de Embalagens.
 

O bom e velho filtro de barro

Remove as impurezas da água - em um país onde quase 50 milhões de pessoas não têm acesso adequado ao saneamento básico - e ainda deixa a água fresquinha sem usar energia elétrica. Comum em muitas casas brasileiras, o filtro de barro é um aprimoramento das moringas, usadas por povos originários para armazenar água em uma temperatura agradável.

No início do século XX, imigrantes portugueses e italianos começaram a fabricar velas filtrantes, acoplando-as às talhas de cerâmica e assim foi criado um dos primeiros produtos da indústria nacional. Na década de 1930, a produção se intensificou pelo país e ganhou popularidade. 

O filtro de barro reinou praticamente sozinho até os anos 1980, quando começaram a aparecer novas opções e logo antes da expansão da venda de água engarrafada. Em 1990, 57,2% das residências brasileiras possuíam algum modelo de filtro, segundo dados da Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios (PNAD), realizada pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE).

A fabricante mais tradicional é a marca Cerâmica Stéfani, fundada em 1947. Ela é de Jaboticabal (SP), região de maior aglomeração de fabricantes do produto no país, concentrando 70,8% dos filtros fabricados.

Quatro filtros de barro com tamanhos diferentes

Primeira marca latina de calcinhas absorventes

Foi necessário um investimento inicial de R$ 300 mil em pesquisa para desenvolver a tecnologia das primeiras calcinhas absorventes brasileiras (e da América Latina). O forro tem duas camadas internas: uma mata 99% das bactérias e a outra é impermeável. O tecido também é biodegradável e antimanchas.

A Pantys nasceu em 2017 e ganhou o mundo, sendo exportada para países como França, Reino Unido, Canadá e Estados Unidos, tanto em lojas físicas quanto online. Com o tempo, surgiram novos produtos, como sutiã absorvente para gestantes e lactantes e cueca menstrual voltada para homens transexuais.

Preocupações ambientais com descarte de absorventes, o custo com esses tipo de produto e a insatisfação com as opções para usar no ciclo menstrual - apontada por 90% das brasileiras ouvidas em uma pesquisa da marca - foram as motivações para Emily Ewell e Duda Camargo criarem o produto. Hoje as fábricas reciclam água no momento do tingimento dos tecidos e a produção compensa a emissão de carbono.

Formada em engenharia química, Emily trabalhou em multinacionais como a Deloitte e Johnson & Johnson antes de se dedicar à criação da tecnologia patenteada e clinicamente testada. A pesquisadora foi uma das vencedoras da Cartier Women's Initiative 2023, iniciativa lançada em 2006 pela marca de luxo francesa para impulsionar empreendedoras de negócios de impacto social ou ambiental.
 

Uma cadeira que virou peça de museu

Parte do acervo do Museu de Arte Moderna (MoMA) de Nova York, a primeira versão da cadeira mole foi criada pelo arquiteto e designer carioca Sergio Rodrigues em 1957. Em 1961, ele enviou uma nova versão para Itália, onde a peça ficou em primeiro lugar no IV Concurso Internacional do Móvel, em Cantu.

Se no Brasil o nome foi dado pelos operários que fabricavam a cadeira, na Europa ela virou Sheriff Chair, nome escolhido pelo fabricante licenciado na Itália. 

A cadeira de couro e jacarandá brasileiro também foi parte da exposição “O Móvel como Objeto de Arte”, organizada por Sergio em 1962 na Oca, local onde vendia suas peças. O evento contou ainda  com móveis criados por outros arquitetos e urbanistas, incluindo Lucio Costa.

Ilustração de cadeira com anotações
Ilustração de Sergio Rodrigues para a exposição "Falando de Cadeira, retrospectiva 1954/1991",

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