A trajetória crescente de custos dos planos de saúde coletivos oferecidos por empresas tem imposto grandes desafios ao setor privado na manutenção de benefícios a mais de 37 milhões de trabalhadores. Para debater propostas e possíveis soluções para a saúde privada no Brasil, a Confederação Nacional da Indústria (CNI) e o Serviço Social da Indústria (SESI) promoveram o 1º Seminário CNI de Saúde Suplementar, nesta quinta-feira (22), em Brasília, com representantes de órgãos do Executivo, do Judiciário e do setor privado.
“Este tema é de crescente importância para as empresas. O envelhecimento da população é um dos muitos fatores que contribuem para o aumento dos custos e a indústria responde por mais de 11 milhões de vidas seguradas por planos de saúde”, afirmou Rafael Lucchesi, diretor-superintendente do SESI, na abertura do evento. “Essa é uma realidade que precisa ser discutida, que trate de redução de custos, das ineficiências, da melhora da gestão e da transparência na regulação”.
A CNI e o SESI têm dedicado grande atenção aos cenários presente e futuro da saúde suplementar e a seus impactos nas empresas da indústria. Alguns números justificam a iniciativa: 25% da população brasileira está coberta por planos de saúde, um terço das quais em planos patrocinados por empresas industriais. “Quando se discute o peso da saúde suplementar, se ressentia do olhar da empresa como contratante nas discussões sobre o setor, que é quem está pagando por isso”, disse Emmanuel Lacerda, gerente-executivo de Saúde e Segurança na Indústria do SESI.
INICIATIVA PIONEIRA – Lacerda relembrou dos esforços recentes para a construção de uma agenda das empresas do setor industrial para pautar a discussão sobre o cenário da saúde suplementar. Um primeiro ponto definido foi o desenvolvimento de um estudo técnico - o primeiro do tipo realizado por empresas contratantes - para avaliar o impacto das tecnologias e procedimentos que se tornaram obrigatórios nos planos de saúde no orçamento das empresas ao longo do tempo. No chamado ROL 2018, 40 novas tecnologias foram incorporadas e passaram a ser obrigatórias nos serviços prestados pelos planos de saúde.
Apresentado no seminário, o trabalho estimou em R$ 2 bilhões os custos adicionais, um acréscimo de 1,49% sobre a lista anterior de tecnologias que eram obrigatórias nas regras da Agência Nacional da Saúde (ANS), órgão que regula o sistema de saúde suplementar. “Isso é importante para as empresas porque entra como um elemento para argumentar no momento do reajuste. Há um impacto futuro no orçamento e as empresas são pressionadas por esses números. Nenhuma empresa quer descontinuar seu plano para seu trabalhador. A preocupação é em manter, maximizando o benefício da saúde”, explicou o gerente-executivo.
ENGAJAMENTO – O diretor-presidente-subsituto da ANS, Leandro Fonseca, disse que a participação do setor privado no debate da saúde suplementar é fundamental. Ele destacou a importância do sistema dentro de um contexto econômico. “O plano de saúde é o principal meio de a empresa cuidar de se empregado e contribui, portanto, para a produtividade média do trabalhador brasileiro. E há efeitos transversais para outros ramos e segmentos da economia brasileira como um todo”, disse, citando que mais de 1,5 bilhão de procedimentos – entre consultas, exames e internações – são realizados anualmente.
Segundo Fonseca, em relação à incorporação de novas tecnologias entre as obrigatórias, o desafio é incluir novos procedimentos que tenham melhor relação entre custo e efetividade em termos de benefício à saúde do beneficiário. Ele reconheceu que a questão da elevação dos custos é preocupante, mas lembrou que este não é um fenômeno exclusivo do Brasil. “A variação dos custos preocupa e, lamento dizer, tende a preocupar mais. Tem a ver com o envelhecimento da população, mas também com toda uma estrutura de incentivos e falhas de mercado que contribuem para esta dinâmica. E essas falhas tendem a pesar mais para os contratantes dos serviços”, analisou.