Como um dispositivo simples pode aumentar a segurança para pessoas surdas na indústria

O Beep Factory, criado por estudantes do SESI-RS, converte em estímulos visuais ou vibratórios os sons captados no ambiente. Mais que um aparelho de segurança, um meio de inclusão!

O aparelho, acoplado a um capacete, converte os sons do ambiente em estímulos visuais ou vibratórios

Imagine que você é uma pessoa surda que trabalha em uma fábrica e precisa usar um colete para que seus colegas avisem a você sobre os sinais sonoros do ambiente. Imagine que você depende de outras pessoas pra saber quando é a hora do intervalo ou se há um alerta de segurança na fábrica. Esses são pequenos exemplos de situações muito reais que pessoas surdas passam no mercado de trabalho.

Por isso, a solução que estudantes encontraram pra ajudar milhares de trabalhadores é tão genial. Com um custo de produção de R$ 50, Pedro Rodrigues, Victor Teixeira e William Botelho, hoje ex-alunos do Serviço Social da Indústria (SESI) Eraldo Giacobbe, de Pelotas (RS), criaram o Beep Factory, um dispositivo que transforma sons em sinais luminosos e vibração. 

Desenvolvido em parceria com o laboratório do Serviço Nacional de Aprendizagem Industrial (SENAI), o aparelho pode ser acoplado a um capacete de proteção e a outros objetos, como óculos ou um relógio. O uso garantiria acessibilidade não só nas fábricas, mas no trânsito, em escritórios, e até dentro de casa. 

O dispositivo pode ser adaptado a outros objetos, como um óculos ou um relógio, e ser utilizado em locais fora da indústria, por ciclistas, motoristas ou, até mesmo, dentro de casa

Orientado pelos professores Joseane do Amaral, Isadora Torres e Hermeto Filho, o projeto levou o primeiro lugar, em nível nacional, da 2ª edição do Prêmio Sebrae de Educação Empreendedora, foi finalista da 5ª Feira Mineira de Iniciação Científica (FEMIC) e participou da VI Feira Brasileira de Iniciação Científica (FEBIC) e da Feira Interativa de Tecnologia e Ciência do Brasil. 

Um alerta para a inclusão 

A ideia do projeto surgiu após William participar de um stand de música em que havia um piano de chão. Ao se sentir despreparado para conduzir uma pessoa surda na dinâmica, ele começou a pensar em soluções de acessibilidade para esse público, que soma mais de 10 milhões de brasileiros, segundo o Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE)

Além de simulações de sons de dentro do chão de fábrica, o grupo fez pesquisas em empresas industriais pra saber um pouco mais sobre a rotina de trabalho de pessoas surdas. Descobriram que casos em que o funcionário com surdez precisa usar um colete para que os demais saibam que aquele indivíduo tem baixa audição. Dessa forma, seus colegas ficam encarregados de avisá-lo dos sons de alerta. 


“O potencial de transformação social que o Beep Factory tem é o que move, é o que motiva a pesquisa e sustenta toda a dedicação para desenvolver esse dispositivo”,  afirma o estudante William.


 


“Também tivemos o relato que um funcionário surdo precisa que algum colega dê um tapinha no ombro dele pra avisar até o horário do intervalo, porque ele não escuta a sirene. Esse tipo de autonomia pode parecer simples, mas é fundamental no processo de inclusão”, relata a professora Isadora. 


Já Joseane destaca que alguns ambientes industriais precisam ser adaptados para ter um trabalhador com surdez. 

“Dependendo da indústria, eles têm que organizar uma sala para que aquele indivíduo fique seguro. Ali, vai ter uma luz que acende para algum sinal de alerta ou para um aviso. Mas, com o Beep Factory ele vai poder circular por toda a indústria com segurança e autonomia”. 

Inicialmente, o projeto era o Beep Drive, direcionado apenas aos motoristas. Com o aperfeiçoamento do protótipo, os estudantes perceberam que o dispositivo também poderia ser utilizado em outros ambientes e públicos. 

O grupo já tem algumas parcerias fechadas para dar seguimento ao projeto, uma delas é com o Pelotas Parque Científico e Tecnológico. 

Por mais visibilidade no mercado de trabalho 

No Brasil, mais de 10 milhões de pessoas são surdas. Desses, 2,7 milhões têm surdez profunda, segundo o IBGE. É justamente essa parcela da população que encontra muita dificuldade ao atingir a idade economicamente ativa, porque o mercado de trabalho nem sempre é inclusivo. 

A Lei Brasileira de Inclusão da Pessoa com Deficiência determina que empresas com 100 funcionários tenham 2% a 5% de pessoas com deficiência contratadas em seu quadro permanente de trabalhadores. 

Na prática, esses trabalhadores, com surdez ou outras deficiências, ocupam cargos com pouca visibilidade e têm uma carreira sem muita perspectiva de crescimento profissional. 

Diante desse cenário, o Beep Factory, além de ser um dispositivo de segurança, pode ser mais um meio para aumentar a acessibilidade das pessoas com deficiência no mercado de trabalho. 

O aparelho já está pronto para uso, mas os estudantes pretendem aperfeiçoar os leds que o compõem. Hoje, ele tem apenas uma cor de alerta, e a ideia é que os leds alterem suas cores conforme os diferentes tipos de sons captados ou, ainda, consiga reproduzir legendas. 

Relacionadas

Leia mais

Alunas criam absorvente com fibra de soja e cana para reduzir pobreza menstrual
Como ajudar pessoas com deficiência a praticar esportes? Pergunte aos alunos do SESI
Jujuba criada por estudantes do SESI recupera o paladar de pacientes com câncer

Comentários