FIESP e SESI lançam pesquisa junto às empresas para diagnóstico da saúde suplementar

Estudo foi anunciado durante a Conferência Nacional de Saúde Suplementar, em São Paulo. Levantamento contará com análises quantitativas e qualitativas

A Federação das Indústrias do Estado de São Paulo (FIESP) e o Serviço Social da Indústria (SESI) anunciaram, na segunda-feira (11/4), o pontapé inicial de uma pesquisa junto às indústrias para mapear as principais necessidades das empresas na gestão dos planos de saúde. O comunicado foi feito durante a Conferência Nacional de Saúde Suplementar, que debateu a Variação do Custo Médico Hospitalar (VCMH) e as perspectivas para 2024.

Responsável pelo financiamento de quase 22% dos planos de saúde privados (10,2 milhões de beneficiários), o setor industrial vem buscando caminhos para conter a escalada de custos e conseguir manter a qualidade da cobertura dos planos de saúde. Hoje, o benefício representa, em média, 13,1% da folha de pagamento das indústrias, segundo a Confederação Nacional da Indústria (CNI).

Na abertura do evento, o diretor de Desenvolvimento Industrial e Economia da CNI e diretor-superintendente do SESI, Rafael Lucchesi, informou que a saúde suplementar gasta, atualmente no Brasil, 5,8% do Produto Interno Bruto (PIB). De acordo com ele, o valor é inferior ao da saúde pública, de 3,8%.


“A saúde pública, que abrange uma quantidade universal, é mais barata do que a saúde suplementar. Se seguir assim, esse modelo estará fadado a ter um colapso”, alertou Lucchesi.


Diante desses dados apresentados, o presidente da FIESP, Josué Gomes, destacou a necessidade de se fazer um raio-x do setor: “A ideia é que, juntos, possamos encontrar uma saída sustentável para a indústria que também permita que as empresas, obviamente, continuem arcando com esse custo e oferecendo serviços de qualidade para os seus trabalhadores, e que leve a menos afastamentos no mercado de trabalho, que custam R$ 76 bilhões”, afirmou.

O diretor adjunto do Comitê do Complexo Produtivo e Econômico da Saúde e Biotecnologia (ComSaude) da FIESP, Paulo Henrique Fraccaro, também reforçou a importância do levantamento. “A saúde suplementar é uma empresa. E é por isso que o ComSaude está muito interessado nesse tema, porque o nosso o nosso objetivo maior é dar todo apoio ao complexo industrial, inclusive às indústrias da saúde suplementar”, disse.

Além de informações quantitativas e qualitativas, o levantamento também pretende trazer sugestões para melhorar a gestão das empresas para garantir que elas tenham condições de manter esse benefício aos trabalhadores. Os resultados da pesquisa estão previstos para serem divulgados em julho deste ano.

Aumento de beneficiários

Um estudo feito pelo ex-secretário de Ciência, Tecnologia e Insumos Estratégicos do Ministério da Saúde, Denizar Vianna, apresentado na conferência, mostrou um aumento no número de beneficiários de planos de saúde coletivos empresariais. Entre julho de 2022 e julho de 2023, houve um aumento de 3,3% vínculos – única modalidade de plano que registrou crescimento nesse período.

Os planos individuais/familiares tiveram queda de 0,8%, enquanto os planos coletivos por adesão - contratados por conselhos, sindicatos e associações profissionais - reduziram em 2,6%.

Essa tendência aponta para as discussões sobre a sustentabilidade do setor que, além do aumento de vidas atendidas, enfrenta diversos obstáculos, como custos altos, reajustes, aumento das sinistralidades e desalinhamento das expectativas.

Do ponto de vista das empresas, garantir a saúde dos trabalhadores é um aspecto importante da sua função social e está diretamente relacionado aos níveis de satisfação e de produtividade dos colaboradores. Além disso, o funcionamento adequado do sistema suplementar é importante para o Sistema Único de Saúde (SUS) ao contribuir para evitar maior sobrecarga no atendimento público.

CONFERÊNCIA NACIONAL SAÚDE SUPLEMENTAR - 11.03.2024

Inflação médica

A conferência também debateu o índice de Variação do Custo Médico Hospitalar (VCMH). O VCMH expressa a variação do custo das operadoras de planos de saúde, comparando dois períodos consecutivos de 12 meses. Ele considera a frequência de uso e a variação dos preços de serviços como consultas, exames, cirurgias, tratamentos e internações.

Uma prévia da VCMH-Brasil de 2023 até o terceiro trimestre, feita pela consultoria Arquitetos da Saúde, indica um índice de 9,85%. Para se ter uma ideia, o Índice Nacional de Preços ao Consumidor Amplo (IPCA), considerado a inflação oficial do país, desse mesmo período, foi de 3,50%.

O índice da VCMH-Brasil de 2023 até o terceiro trimestre é o segundo menor valor positivo da série histórica, que começou em 2014. O índice médio de 2014 a 2019 foi de 12,80%. No ano passado, a inflação médica subiu 8,78% e, em 2020, o índice foi o único indicador negativo da história pelo represamento de despesas médicas em função da pandemia da Covid-19.

“Dentre outros fatores, em parte, a menor variação dos dois últimos anos pode ter relação com o crescimento contínuo da população de plano de saúde que empurra para a frente as despesas dos últimos entrantes que estão em carência ou com eventos realizados e não pagos”, explica Luiz Feitoza, sócio da consultoria Arquitetos da Saúde. De 2020 a 2024, o setor cresceu de 47 milhões para 51 milhões de vidas.

Debate necessário

Na mesa redonda intitulada "Saúde Suplementar na Indústria", o mediador Emmanuel Lacerda, superintendente de Saúde e Segurança na Indústria do SESI Nacional, lembrou que os expositores anteriores frisaram a importância da disponibilização de informações, mais a qualidade de dados ofertados, para se fazer gestão de saúde de maneira eficiente.

Na opinião de Paulo Rebello Filho, diretor presidente da Agência Nacional de Saúde (ANS), a entidade tem muitos dados e há a preocupação de que essas informações cheguem a todos os setores e com precisão. “Sempre debatemos de que forma nós podemos estruturá-las”, disse.

Já Giuliano Neri Belculfine, diretor de RH da Heineken, citou que hoje o custo da saúde representa 10% da folha salarial da empresa. Ele acrescentou como ponto de atenção a demografia das empresas por conta do envelhecimento dos funcionários na indústria, em média, na casa dos 45 anos.

Renato Casarotti, presidente da Associação Brasileira de Planos de Saúde (ABRANGE), apontou outro gargalo: as novas tecnologias e como elas podem ser incorporadas ao sistema.

“As pequenas [empresas] podem negociar com as operadoras e se antecipar ao índice do aniversário do contrato a fim de criar uma relação de confiança”, sugeriu Luiz Feitoza, da Consultoria Arquitetos da Saúde. Ao contribuir com o debate, Denizar Vianna, disse que “é preciso trazer transparência ao sistema, pois a ineficiência de um é o lucro do outro”, alertou.

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