Dia do Empreendedorismo Feminino: mulheres crescem na indústria

Atualmente, 3,6 milhões de mulheres empreendem no Brasil e dessas, 369 mil estão na indústria. Entre 2015 e 2022, o número de empreendedoras industriais cresceu 68%

"Estudos demonstraram que crianças criadas com mel, ao invés de açúcar, tem o esqueleto mais forte" - Beatriz Pamplona, Novo Mel

Existem diversos motivos no mundo que incentivam mulheres a criar o próprio negócio. Tem quem comece para ter independência financeira e fazer uma renda extra. Atualmente, 3,6 milhões de mulheres empreendem no Brasil e dessas, 369 mil estão na indústria. 

É o que mostra um levantamento da Confederação Nacional da Indústria (CNI) sobre dados da Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios (PNAD) Contínua do segundo trimestre de 2022, divulgado pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE).

A análise mostra que o número de empreendedoras na indústria cresceu 68% entre o último trimestre de 2015 e o segundo trimestre de 2022. Para efeitos de comparação, entre os homens, o crescimento foi de 29%.

Proporcionar uma alimentação saudável para a família, por exemplo, foi o motivo que fez uma cientista se dedicar à apicultura e criar a própria indústria de mel. Essa é a história da física nuclear Beatriz Pamplona, dona da empresa Novo Mel, criada em 1994.

Um dos gatilhos para que Beatriz investisse nessa carreira foi o livro Sugar Blues: o gosto amargo do açúcar, que a fez perceber que precisava de um substituto saudável para adoçar a alimentação dos filhos. 


“Estudos demonstraram que crianças criadas com mel, ao invés de açúcar, têm o esqueleto mais forte, porque o mel não retira os sais minerais dos ossos. Substituí todo açúcar da minha casa por mel durante a infância dos meus filhos. Depois, quando concluí o doutorado, criei a Novo Mel com a ajuda dos meus filhos. É o que eu gosto e sei fazer”, conta a mestre e doutora em Ecologia Geral pelo Laboratório de Abelhas da Universidade de São Paulo (USP).


Há mais de 15 anos no mercado nacional e internacional, Beatriz continua produzindo com a mesma qualidade idealizada para a sua família, contando com aprendizados adquiridos ao longo dos estudos.

“Colocamos em prática o que aprendi enquanto fiz estágios na Alemanha, na Universidade de Hohenheim, e com Eva Crane, que era a maior especialista na época, na Inglaterra. Nosso objetivo é cumprir todas as exigências internacionais e oferecer produtos de alta qualidade”, detalha a empreendedora.

Beatriz é mestre e doutora em Ecologia Geral no Laboratório de Abelhas da Universidade de São Paulo (USP)

A Novo Mel é pioneira em exportação de mel fracionado direto para o varejo de Dubai, Canadá, China, Angola, EUA e Singapura, com a linha de mel puro “Brazilian Forest Honey”. No Brasil, a empresa tem ainda uma linha de spray de própolis, extrato de própolis, mel composto, bisnagas e mel em pó para indústrias alimentícias.

De olho em expandir a presença lá fora, a empresa participou da Missão Comercial SIAL Paris 2022, uma das feiras de alimentos mais importantes do mundo. A visita foi promovida pela CNI em parceria com o Serviço Brasileiro de Apoio às Micro e Pequenas Empresas (Sebrae), em outubro desse ano. Os representantes da Novo Mel participaram de rodadas de negócios com compradores da França, Argentina, Itália, Camboja e Espanha.

O setor de alimentos é particularmente importante para as mulheres: a fabricação de produtos alimentícios é um dos principais setores de atuação das empreendedoras no Brasil, com 21,6 mil negócios comandados por elas (6% das empreendedoras industriais).

Mais cor e tecnologia, por favor

A Mistercryl é uma indústria de tintas presente no mercado há 15 anos, com sede no Distrito Federal. Anos atrás, a cocriadora da marca, Aline Barbosa, percebeu que era preciso inovar em boas práticas e processos para melhorar o faturamento e consolidar a empresa. Após consultoria realizada com o Serviço Nacional de Aprendizagem Industrial (SENAI), a empreendedora conseguiu tirar do papel o sonho antigo de trabalhar com sustentabilidade, fabricando produtos com segurança e a expertise da Indústria 4.0.

O primeiro passo para se posicionar no mercado foi construir uma sede nova. Todo o projeto, da estrutura até o layout, foi feito a partir de três consultorias do SENAI. Já em atividade, a nova fábrica aproveita resíduos, conta com máquinas inteligentes, tem mais capacidade de produção e tempo menor de fabricação. Fatores estes que contribuem para o melhor aproveitamento do capital humano.


 “Após a consultoria, conseguimos, de fato, ter uma indústria com todo o conceito da indústria 4.0, incluindo melhoria no layout, ergonomia dos funcionários, fluxo contínuo, armazenamento do estoque e zelo com a matéria-prima”, destaca a empresária. 


 

A fábrica possui aproveitamento no descarte de resíduos, máquinas inteligentes, melhor aproveitamento do capital humano, maior capacidade de produção e redução de tempo de produção

Em 2019, a Mister Cryl conquistou o selo voluntário do Inmetro. A certificação assegura que o produto foi testado e aprovado, segundo normas técnicas do segmento construção civil, para ser consumido com segurança. Com isso, se tornou a única indústria de tintas e revestimentos do segmento no DF a ter produtos com a certificação. Anualmente, a empresa comercializa mais de 3 milhões de litros de tintas.

“Além de tudo isso, estamos com duas consultorias com o Brasil Mais, com objetivo de aumentar em 20% d produtividade e o resultado tem sido fantástico. Mesmo antes do fim da consultoria, já conseguimos atingir a meta de crescimento” ressalta.

Aline é uma das mais de 22,8 mil mulheres que empreendem no setor de serviços especializados para construção. Segundo o levantamento da CNI, outras 20,3 mil (6% das empreendedoras industriais) atuam na construção de edifícios.

Moda como ferramenta de transformação social

A Namah nasceu com uma vocação clara: evidenciar o papel inclusivo e social da moda, a partir de um consumo sustentável e sem padrões. Por trás da ideia que resultou na inauguração de dois ateliês no Rio de Janeiro, está a design de moda Maria Navarro, formada pela Faculdade SENAI CETIQT.

A marca está há três anos no mercado e integra a lista de 137,2 mil empreendedoras do setor de vestuário e acessórios, que respondem por 37% das empreendedoras industriais. O diferencial da Namah é trabalhar com a modelagem precisa para aproveitar melhor os tecidos. Os resíduos são mensurados para dar outro destino, seja por meio da produção de peças únicas ou doação para a grupos de reciclagem.


“Acreditamos numa indústria com potencial para causar impactos positivos e ressignificar o consumo, seja na escolha do material, na maneira como as relações de trabalho se estabelecem ou nas parcerias firmadas. Com escolhas mais atentas, queremos caminhar ao lado de uma moda menos fast e mais slow”, ressalta Maria.


A empreendedora colocou em prática dois projetos sociais, o Libertas e o Namah + Lab Denim, que oferecem oficinas de moda para mulheres e jovens egressas do sistema prisional. O Libertas ganhou um edital do Instituto Lojas Renner em parceria com o Fundo Elas e a ONU Mulheres.

“Com uma metodologia própria desenvolvida para atender um público que vive à margem da sociedade, contribuímos para estimular o empreendedorismo e a independência financeira de outras mulheres”, destaca a designer.

Igualdade de gênero nos salários é chave pra combater a pobreza

A discrepância entre homens e mulheres no mercado de trabalho não é uma novidade. Porém, entre 2012 e 2019, mais mulheres se tornaram chefe de família: o percentual subiu de 37% para 48% no período, segundo análise feita pela CNI, dos dados fornecidos pelo IBGE.

O aumento reflete maior representatividade das mulheres no mercado de trabalho e maior responsabilidade no sustento da família. Mesmo assim, a diferença salarial entre homens e mulheres persiste: as mulheres que chefiavam famílias recebiam, em média, quase metade do salário pago para homens na mesma ocupação. Falamos de R$ 704 para elas e enquanto eles recebiam R$1,284.

Segundo o Observatório Nacional da Indústria, se não houvesse essa desigualdade salarial, o percentual de pessoas abaixo da linha de pobreza cairia de 24% para 18%. 

Criado pela CNI, o Observatório Nacional da Indústria é uma plataforma que une conhecimento e inteligência para apresentar estudos e insights sobre tecnologia, inovação, educação, saúde e trabalho.

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