SENAI investe em projetos para produção de veículos mais seguros e econômicos

Plataforma Inovação para a Indústria seleciona propostas do programa Rota 2030 que estudam propriedades de aços de alta resistência. Material possibilita desenvolver carros com menor peso, consumo e emissão de CO2

Projetos têm potencial de gerar inovação disruptiva para a indústria automotiva

O Serviço Nacional de Aprendizagem Industrial (SENAI) selecionou cinco projetos que vão receber R$ 23 milhões do programa federal Rota 2030 meio da Plataforma de Inovação para a Indústria (antigo Edital de Inovação para a Indústria). Além disso, as empresas selecionadas vão aplicar contrapartidas no desenvolvimento das propostas. Os projetos buscam estudar propriedades de aços avançados de alta resistência e desenvolver novas ferramentas para utilizá-los. O emprego desse material permite à indústria automotiva produzir veículos com maior segurança e reduzir seu peso, o que leva a aumento de eficiência energética e redução na emissão de CO2 na atmosfera.

As propostas selecionadas foram apresentadas em parcerias das empresas Ford, uma das maiores e mais conhecidas montadoras de veículos; Usiminas, grupo com forte atuação no setor siderúrgico que fornece aço para o setor automotivo; Benteler, player mundial em produção de autopeças; Sodecia do Brasil, empresa que fornece peças estampadas para o setor; e Ferramentaria Gaspec, uma das mais especializadas em projetos e construção de ferramentas para estampagem no Brasil. 

“O eixo de produtividade gerenciado pelo SENAI cria alianças entre grandes montadoras e empresas do setor de autopeças, que são seus fornecedores. Esse mecanismo permite uma inovação de maior impacto, como demonstram os projetos selecionados pela Plataforma de Inovação para a Indústria, que têm potencial de gerar inovação disruptiva para a indústria automotiva”, avalia o diretor-geral do SENAI, Rafael Lucchesi.

“O SENAI, com uma estrutura robusta de inovação e tecnologia, está preparado para dar respostas aos desafios do setor automotivo, especialmente diante da Revolução 4.0”, complementa.

Por meio do Rota 2030, o governo federal isentou o imposto de importação de autopeças que não são produzidas no Brasil e, em troca, as indústrias depositam 2% do valor importado. A previsão é arrecadar R$ 1 bilhão em cinco anos. As empresas beneficiárias do regime de autopeças devem escolher e aportar os recursos obrigatórios em um programa prioritário definido pelo governo federal. Após disputa de propostas, foram selecionadas quatro instituições para realizar ações de melhoria na cadeia automotiva com esses recursos, entre as quais o SENAI, que habilitou-se a gerenciar o eixo de produtividade.

Projeto reduz peso do veículo, consumo e resíduos poluentes

Pesquisa vai acompanhar durante dois anos toda cadeia de produção para validação

Um dos projetos selecionados busca avaliar os efeitos do retorno elástico em componentes estruturais projetados com aço de alta resistência de terceria geração estampados a frio. Esse tipo de aço permite fabricar peças com espessuras mais finas e maior rigidez. Isso resulta em menor peso estrutural do veículo e menor consumo, com menos resíduos poluentes. Apesar de suas características indicarem bons resultados durante a conformação (o dobramento de chapas), os trabalhos apresentados até agora se limitam a ensaios laboratoriais e não cobrem toda a cadeia de produção automotiva.

Pela primeira vez, será feita, durante dois anos, pesquisa detalhada desde o lote recebido do material da siderurgia até a integração do componente estrutural na carroceria veicular, oportunidade única de integração de toda cadeia para validação. “O escalonamento parcial ou total de todos os resultados caracteriza uma inovação radical para o setor automotivo mundial”, justifica o projeto aprovado. 

Outro projeto busca entender o efeito da corrosão nas propriedades de componentes estruturais de Aço PHS 2000 sem uso de revestimento externo, que normalmente protege o substrato metálico. A resistência à corrosão é um dos requisitos cruciais da carroceria de um automóvel, especialmente em casos de peças mais expostas ao meio externo. É um elemento valorizado pelo consumidor final, sendo um diferencial especialmente em localidades que apresentem condições atmosféricas mais agressivas.

A pesquisa vai estudar, durante dois anos, as propriedades de resistência à corrosão de peça fabricada por estampagem a quente com novo processo que busca ganho de produtividade, redução de peso do componente e de custos. A literatura envolvendo o aço PHS 2000 utilizado dessa forma praticamente não existe. Os trabalhos relacionados a estampagem a quente e corrosão passaram a ser feitos apenas nos últimos cinco anos.

“Isso significa que a inovação proposta por essa iniciativa é disruptiva e possui caráter de vanguarda mesmo em contexto global”, avalia o projeto apresentado. Segundo os autores, os benefícios e possibilidades de aplicação são bastante amplos, indo além da aplicação em automóveis.

As demais propostas selecionadas vão estudar a resistência a corrosão dos aços geração 3 em componentes estruturais automotivos estampados a frio e desenvolver rota tecnológica para estampagem a frio desses aços com aplicações de reforço estrutural veicular. Será analisada ainda a soldabilidade do aço PHS 2000 sem revestimento aplicado em componentes estruturais.

Rumo à Industria 4.0

O eixo do programa Rota 2030 gerenciado pelo SENAI é uma jornada rumo à Indústria 4.0. A indústria importadora de peças poderá matricular os gestores de produção e inovação no Master in Business Innovation (MBI) em Indústria 4.0 oferecido pela instituição. A pós-graduação é destinada a dirigentes de empresas que desejam obter ganhos de produtividade por meio da utilização de tecnologias digitais, como internet das coisas, big data e inteligência artificial.

Os fornecedores da cadeia automotiva também vão receber consultoria dos Institutos SENAI de Tecnologia para reduzir desperdícios em seu processo produtivo, por meio de técnicas de manufatura enxuta (lean manufacturing). Outro passo será a digitalização das empresas participantes, por meio do uso de sensores, computação em nuvem e big data. O programa prevê ainda o desenvolvimento de novos produtos e processos na rede de Institutos SENAI de Inovação. Além disso, o SENAI fará um trabalho de projeção do futuro da indústria automotiva, por meio de uma plataforma de geração e disseminação de conhecimento.

Projetos desenvolvidos por meio da rede de inovação do SENAI

Todos os projetos serão desenvolvidos em parceria com o Instituto SENAI de Inovação em Conformação e União de Materiais, localizado em Salvador (BA). O centro faz parte da rede de 27 Institutos SENAI de Inovação distribuídos pelo país. Desde que a estrutura foi criada, em 2013, mais de R$ 1 bilhão foram aplicados em 1.086 projetos concluídos ou em execução. A rede conta com mais de 700 pesquisadores, sendo que cerca de 44% possuem mestrado ou doutorado. Atualmente, 15 centros são unidades Embrapii, e têm verba diferenciada para financiamento de projetos estratégicos de pesquisa e inovação.

A Plataforma de Inovação para a Indústria é uma iniciativa do SENAI e do Serviço Social da Indústria (SESI). Desde que foi criado, em 2004, foram selecionados mais de mil projetos inovadores, nos quais foram investidos mais de R$ 680 milhões. As propostas selecionadas recebem recursos e apoio para desenvolvimento de uma prova de conceito, passando por processos de validação, de protótipo e de teste na rede de inovação e tecnologia do SENAI.

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