Sal no álcool gel? Uma mistura que Deu Certo!

Pesquisa desenvolve o uso do acetato de cálcio como alternativa para dar viscosidade ao produto. Projeto faz parte das 16 novas formulações encontradas pelos Institutos SENAI de Inovação

Os espessantes validados estão agrupados em origem celulósica, sintéticos e outros e já são usados na indústria alimentícia e cosmética

A rede de Institutos SENAI de Inovação concluiu projeto que definiu 16 novas formulações alternativas para a produção de álcool gel sem a necessidade de espessante importado. Uma das soluções permite utilizar o acetato de cálcio, um sal usado como aditivo e estabilizante alimentar, para dar viscosidade ao produto. O insumo oferece vantagens em relação à matéria-prima usada normalmente por ter ótimo custo-benefício e estar disponível no Brasil.

A proposta para identificação de novos espessantes recebeu investimentos de R$ 2,6 milhões da Plataforma Inovação para a Indústria (antigo Edital de Inovação para a Indústria), na categoria Missão contra a Covid-19. Os projetos tiveram apoio da Empresa Brasileira de Pesquisa e Inovação Industrial (Embrapii) e da Agência Brasileira de Desenvolvimento Industrial (ABDI).

A pesquisa foi coordenada pelo Instituto SENAI de Inovação em Biomassa, localizado em Três Lagoas (MS), e teve a participação dos institutos de Biossintéticos e Fibras, no Rio de Janeiro, e de Engenharia de Polímeros, em São Leopoldo (RS).

“A rede de Institutos SENAI de Inovação, a maior infraestrutura de apoio à capacidade inovativa da indústria, conseguiu, de forma muito ágil, mobilizar competências internas para dar respostas importantes no desafio de substituição de importados para produção de álcool gel”, avalia o diretor-geral do SENAI, Rafael Lucchesi.

“É a entrega de mais um resultado relevante no conjunto de iniciativas tomadas pelo SENAI para apoiar a indústria brasileira no seu processo de reconversão industrial e ajudar o Brasil a enfrentar o novo coronavírus”, completa.

Metodologias foram desenvolvidas para solucionar o desafio

Durante os experimentos para novas formulações, a equipe do instituto de São Leopoldo identificou a possibilidade de uso do acetato de cálcio, que não tem efeito adverso à saúde, mas teve de superar obstáculos, como a dificuldade de juntar os dois produtos.

“Os testes iniciais com o acetato de cálcio ofereceram alguns desafios para incorporação do sal ao álcool, que foram solucionados com uma metodologia de preparo desenvolvida especificamente para a nova formulação”, explica a gerente de operações do Instituto em Engenharia de Polímeros, Viviane Lovison.  

Ao todo, na rede, foram testados 26 espessantes alternativos e 12 apresentaram resultados satisfatórios. Em algumas formulações foi usado o mesmo espessante, variando outros componentes – como neutralizante, estabilizante ou umectante –, atingindo-se as 16 formulações equivalentes às encontradas no álcool em gel comercial.

“O projeto foi fundamental para mostrarmos a capacidade de atuação em rede do SENAI e seu conhecimento em desenvolver inovações que beneficiam toda a sociedade, principalmente em um momento de pandemia”, avalia a coordenadora do Instituto de Biomassa, Carolina Andrade.

SENAI presta suporte técnico às empresas para avaliar a qualidade do álcool gel produzido

Os espessantes validados estão agrupados em origem celulósica, sintéticos e outros e já são usados na indústria alimentícia e cosmética. São eles: hidroxietilcelulose, hidroxietilmetilcelulose, hidroxipropilmetilcelulose, poliacrilamida, proliacrilato crosspolymer 6, copolímero acrilato, carbômero alternativo, espessante sintético Luviset, espessante sintético Acusol, quitosana, acetato de cálcio e a fécula de mandioca modificada.

As indústrias também recebem apoio do Serviço Nacional de Aprendizagem Industrial (SENAI) para fabricar o produto com essas novas formulações. A especificações estão descritas em fichas técnicas no site senai.br/maisprevencao, disponíveis a todos os interessados. As orientações contêm detalhes da composição do produto, procedimentos de preparo, precauções de uso, riscos e armazenamento. 

Método avalia qualidade do álcool produzido

O SENAI presta também suporte técnico às empresas e possui metodologia para avaliar a qualidade do álcool gel produzido. O Instituto de Polímeros é capaz, por exemplo, de determinar o teor alcóolico pela técnica de infravermelho, requisito decisivo para eficiência da ação antisséptica do produto.

Os estudos envolveram ainda a prospecção de fornecedores nacionais de potenciais matérias-primas. Uma das empresas parceiras é a Adecoagro Vale do Ivinhema S.A., de Angélica (MS), complexo agroindustrial que também produz álcool etílico, componente fundamental nas formulações de álcool em gel 70%. A parceria foi fundamental para viabilizar o projeto, pois a indústria doou 500 litros de etanol anidro.

Em outra pesquisa do Instituto de Biossintéticos e Fibras, foi desenvolvida formulação inovadora em parceria com pesquisadores do Centro de Tecnologia da Klabin e da indústria de cosméticos Apoteka. O espessante alternativo é feito a partir da celulose microfibrilada (MFC), produto extraído da madeira, ou seja, de fonte renovável. O primeiro volume, de 60 quilos, foi produzido e possui laudos técnicos que garantem a sua ação bactericida. A MFC utilizada é um tipo de microcelulose que garante hidratação para a pele, evitando o ressecamento pelo uso contínuo.

A rede de Inovação e de Tecnologia do SENAI

Os Institutos do SENAI possuem pesquisadores qualificados, equipamentos e infraestrutura de vanguarda para desenvolvimento de produtos e processos inovadores, assim como para a oferta de serviços de consultoria e metrologia. Desde que a rede de 27 Institutos SENAI de Inovação foi criada, em 2013, mais de R$ 1 bilhão foi aplicado em 1.086 projetos concluídos ou em execução. A estrutura conta com mais de 700 pesquisadores, sendo que cerca de 44% possuem mestrado ou doutorado.

Atualmente, 15 centros são unidades Embrapii, e têm verba diferenciada para financiamento de projetos estratégicos de pesquisa e inovação. A rede de 60 Institutos SENAI de Tecnologia possui corpo técnico de cerca de 1.200 especialistas e consultores que prestam serviços buscando melhorar a qualidade de produtos e serviços, a produtividade e a competitividade dos negócios.

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