Mulheres movidas pelo desafio de inovar

Diretoras dos Institutos SENAI de Inovação contam suas histórias de vida e mostram que é possível inovar no Brasil

Viviane Hammel Lovison (leme) ganhou o prêmio de Química do ano no Rio Grande do Sul em 2011

O gosto pela Química sempre fez parte da vida de Viviane Hammel Lovison. Aos 8 anos, ela pediu aos pais um laboratório de brinquedo como presente de Natal. A vontade de enfrentar desafios também esteve presente em sua história. No início da vida profissional, ela largou a segurança de um emprego de servidora pública na Companhia Riograndense de Saneamento (Corsan) para trabalhar na iniciativa privada, em uma multinacional produtora de componentes de borracha e plástico. “Eu sempre quis usar a Química para produzir, para construir alguma coisa”, diz ela, que hoje, aos 55 anos, é diretora do Instituto SENAI de Inovação em Engenharia de Polímeros, em São Leopoldo (RS).

Responsável por administrar o instituto, que possui faturamento anual de R$ 7 milhões, Viviane conta que resolveu trabalhar com pesquisa, desenvolvimento e inovação ao receber o convite para um outro desafio: participar da montagem, em 1992, de um centro tecnológico especializado em polímeros a fim de ajudar a indústria gaúcha a exportar. Em 2000, ela assumiu o comando do centro, que anos depois tornou-se Instituto de Inovação. “O convite do SENAI veio muito a calhar com que eu queria fazer. Acho que houve uma configuração de fatores: você projeta e o cara no céu conspira, as pessoas na terra ajudam, e hoje o Instituto é algo que a gente sonhou e é palpável”, diz ela. 

A mais velha dos quatro filhos de um vendedor descendente de alemães e de uma gerente de recursos humanos, Viviane conta que o gosto pela ciência surgiu espontamente na infância e se consolidou nos bem equipados laboratórios do Colégio Dom Feliciano, ligado a freiras. “Quando fui escolher uma profissão não cheguei a pensar em outra coisa que não a Química”, conta. 

Sua competência e dedicação à área lhe renderam o prêmio de Química do ano no Rio Grande do Sul em 2011, ano do centenário do Prêmio Nobel dado à cientista Marie Curie, polonesa naturalizada francesa, a primeira mulher a ganhar a premiação concedida pela Academia Real das Ciências da Suécia. “Acredito muito em coisas que estão alinhadas para acontecer e essa coincidência foi uma satisfação tremenda”, diz ela, que é especialista em Tecnologia de Elastômeros pelo Instituto National de Formation Et D’enseigment Professionnel Du Caoutchou, da França. 

Carolina Andrade é mestre em microbiologia, doutora em biotecnologia e dona de três pós-doutorados

INFLUÊNCIA - Foi a Biologia que entrou inesperadamente na vida de Carolina Andrade, 53 anos, diretora do Instituto SENAI de Inovação em Biomassa, localizado em Três Lagoas (MS). Leitora voraz, amante do estudo de línguas, fluente em inglês e alemão, ela pensava em cursar Letras na faculdade, mas, na hora do vestibular, escolheu a área à qual se dedicou apaixonadamente desde então. Mestre em microbiologia, doutora em biotecnologia e dona de três pós-doutorados, ela também imaginou que seguiria carreira acadêmica. Mas o desafio lançado pela empresa White Martins a instigou a migrar para a iniciativa privada. 

Ela já havia se interessado pela pesquisa aplicada – o emprego do conhecimento no desenvolvimento de novos produtos e soluções para as empresas – ao fazer o doutorado na Technische Universitaet Hamburg Harburg na Alemanha, país que é referência na relação entre ciência e mercado. “Desde o doutorado eu pensava que este era o caminho: produzir produtos usando os organismos como fábrica. A biotecnologia era um sonho que eu tinha de levar adiante”, conta ela sobre o fascínio pela área com qual trabalha hoje no SENAI, instituição na qual ingressou em 2000. 

A forma entusiasmada com que trabalha a biologia inspirou a filha, de 22 anos, estudante de Engenharia Ambiental. “Ela é mais abraçadora de árvores que eu”, diz brincando, sem negar a influência. O filho é estudante de Medicina. Para Carolina, o Brasil avançou, nos últimos anos, na agenda de sustentabilidade e possui hoje bom espaço para os profissionais da área. “Somos constantemente assediados por parceiros de universidades da América Latina que querem vir para o Brasil”, conta ela, que possui na equipe uma pesquisadora peruana. 

Na sua opinião, a existência na rede SENAI de um instituto dedicado especificamente à biotecnologia se justifica. “São conhecimentos e desenvolvimentos que estão em linha com um consumidor e uma indústria mais conscientes. A indústria está saindo do discurso e há um interesse concreto em ser competitiva de forma sustentável”, relata ela, que trabalha com projetos como a geração de combustíveis renováveis para navios e o mapeamento genético da cana de açúcar. “As pessoas querem hoje ficar em harmonia. Ninguém fica impassível mais diante de uma agressão à natureza. As coisas mudaram para melhor”, acredita. 

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