De mestre a parceiro: cooperação Japão SENAI leva treinamento profissional para o mundo

Japão tem sido um dos maiores parceiros internacionais do SENAI. Primeiro na montagem de escolas no Brasil e hoje na qualificação de profissionais em outros países

No fim da década de 1970, o Serviço Nacional de Aprendizagem Industrial (SENAI) se uniu à Agência de Cooperação Internacional do Japão (JICA) para uma cooperação que envolveu a doação de equipamentos a escolas e treinamento de profissionais. Foram mais de três décadas de apoio japonês a unidades do SENAI em quatro estados brasileiros até a parceria atingir novo patamar, com o Brasil deixando a condição de beneficiário e se tornando aliado em projetos trilaterais, nos quais a JICA passou a contar com a expertise do SENAI para treinamento de recursos humanos em países da América Latina e da África.

“A cooperação com o Brasil começou em 1959. Com o SENAI, há projetos desde a década de 1970. Em um primeiro momento, atendemos necessidades de capacitação técnica no Brasil. Hoje, a parceria continua, mas com o SENAI em outro papel. Agora, oferecendo sua capacidade técnica e experiência em projetos da JICA em países da América Latina e da África”, diz o representante sênior da JICA no Brasil, Shinji Sato.

O primeiro projeto foi firmado para a construção do Centro Tecnológico de Eletroeletrônica (Cetel), em Belo Horizonte (MG). O gerente da escola, Enio Oliveira, lembra que a parceria envolveu transferência de tecnologia, equipamentos, modelo de dados e treinamento. O investimento  foi de aproximadamente US$ 4 milhões. “O projeto teve prazo de 15 anos até que os japoneses criaram o Programa de Treinamento de Terceiros Países, no qual fizeram convênio conosco para treinarmos pessoas de outros países, como peruanos, colombianos e argentinos”, afirma Oliveira, que passou alguns meses em treinamento no Japão entre 1995 e 1996. 

Uso de equipamentos de ponta 

Professor da Escola de Instrumentação do SENAI, em Vitória (ES), desde a inauguração da unidade, em 1987, Fernando Tadeu Rios, de 62 anos, recorda que o motor propulsor para a parceria em terras capixabas foi a implantação da antiga Companhia Siderúrgica de Tubarão (CST), que tinha entre os sócios a gigante japonesa Kawasaki. “A unidade foi inaugurada em 1987 como a melhor escola de instrumentação do Brasil. Eram 32 vagas e tivemos 961 inscritos. A JICA forneceu praticamente 90% dos equipamentos. Nove engenheiros brasileiros foram em momentos diferentes fazer treinamentos no Japão em instrumentação e eletrônica”, detalha Rios, hoje dono de uma pequena indústria e professor da escola do SENAI no período noturno.

Durante quase sete anos, os profissionais da JICA deram suporte à escola no Espírito Santo, período que ficou marcado por uma grande troca de experiência. O Japão tinha interesse em conhecer o modus operandi do SENAI. Em contrapartida, os asiáticos deixaram um legado de organização e método.

“A parceria com os japoneses foi extremamente interessante sob o ponto de vista de planejamento, responsabilidade, comprometimento com a entrega do produto. Tudo acontecia absolutamente como planejado”, enfatiza Rios. 

Muitos dos equipamentos doados à época, apesar de serem obsoletos para uso fabril, seguem funcionando e são úteis no treinamento de novos profissionais. "Para se ter ideia, dentro do mercado de instrumentação no Espírito Santo, pelo menos 70% dos profissionais passaram pelo SENAI”, completou. Além de Espírito Santo e Minas Gerais, o SENAI teve parcerias com a JICA em escolas de Pernambuco e São Paulo.
 

Japoneses e brasileiros trabalharam juntos na década de 1980 para criar escola no Espírito Santo

“Sentimos que contribuímos muito com o Brasil no avanço da formação de profissionais para a indústria", diz Sato, da JICA.

De ajudado a formador  

Hoje, o SENAI é um parceiro estratégico dos nipônicos em projetos desenvolvidos  na América Latina e África. No começo da década de 2010, o Brasil deixou de ser país prioritário para receber cooperação técnica, mas a parceria com a JICA moveu o SENAI para novos projetos trilaterais, em que empresas e o governo japonês, juntamente com o governo brasileiro e o SENAI, apoiam um terceiro país em moldes semelhantes ao que o Japão fez no Brasil no passado recente.

“Consideramos mais adequado, neste momento, aplicar a tecnologia tropicalizada do Brasil do que chegar como Japão em países em que a realidade tecnológica ainda está distante. Hoje, temos projetos no Paraguai, em Moçambique e em Angola, onde iniciamos em 2016, junto com o SENAI, a capacitação profissional de angolanos para a área de construção civil”, explica Shinji Sato, da JICA.

Segundo ele, a cooperação técnica com o SENAI teve papel muito importante para formar profissionais no Brasil e terá papel estratégico no futuro. “Sentimos que contribuímos muito com o Brasil no avanço da formação de profissionais para a indústria. Para o futuro, almejamos parcerias muito importantes na área de tecnologia, com inteligência artificial, big data e internet das coisas”, pontua.

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