Profissões tradicionais que há uma ou duas décadas exigiam somente conhecimentos básicos passaram por transformações e, acompanhadas da evolução tecnológica, modificaram o perfil do trabalhador. A tecnologia alterou completamente a forma de atuar de padeiros, confeiteiros e mecânicos, por exemplo. Quem não se atualizou, teve restrições no mercado de trabalho.
As novas máquinas chegaram ao país para aumentar a produtividade e a competitividade das empresas nacionais. À medida que vieram, exigiram esforços do Serviço Nacional de Aprendizagem Industrial (SENAI), que atualiza os cursos que oferece em sintonia com os avanços tecnológicos. Toda essa evolução foi vista em agosto, em São Paulo, na Worldskills 2015 – a maior competição de educação profissional do mundo, vencida pelo Brasil pela primeira vez na história.
Antes, um padeiro precisava reunir quase que exclusivamente habilidades manuais e entendimento de receitas e de misturas de farinhas para ter sucesso no trabalho. Hoje, o mercado exige noções de boas práticas, saúde e segurança do trabalho, além de domínio sobre formas de evitar a contaminação de alimentos. A perspectiva, conforme avaliação da Unidade de Estudos e Prospectiva do SENAI, é que em um horizonte de cinco a dez anos a maior parte dos trabalhadores da área de panificação tenha noções básicas de automação e conhecimento dos processos de congelamento.
PANIFICAÇÃO - De acordo com o supervisor técnico do SENAI de Minas Gerais, Rônio Ross Gonçalves, aqueles que, além da habilidade manual, têm o domínio sobre equipamentos programáveis, saem na frente em relação ao mercado de trabalho. “O avanço da tecnologia trouxe para o padeiro uma competência maior. Não é só misturar farinha, é usar uma tecnologia programável. As habilidades manuais continuam, mas só saber fazer o pão não é o que vai qualificar a pessoa para conseguir o emprego”, opina o supervisor do SENAI mineiro.
Com atuação na área de panificação há 16 anos, Gonçalves descreve a evolução na profissão de padeiro. Segundo ele, o cilindro de massa era usado em todas as padarias. Atualmente, a evolução tecnológica substituiu, em parte dos estabelecimentos, o antigo cilindro pela amassadeira, o que faz render, conforme o especialista, até 3,5kg a mais de pão francês para cada saca de farinha de 50 kg. A tecnologia na panificação não para por aí. Há controle eletrônico da temperatura dos fornos, regulação de horários para uso das câmaras de fermentação, uso de balanças mais precisas, além de equipamentos de segurança.
“O futuro está caminhando a passos largos, com o mercado de pão congelado e pré-assado. É uma tendência grande. A tecnologia será ainda maior para atender a indústria de alimentos e, por isso, os profissionais terão que se atualizar constantemente”, afirma Rônio Gonçalves.
MAIS TECNOLOGIA E MAIS PRODUTIVIDADE - O mineiro Gabriel Nery, 21 anos, concluiu neste ano o curso técnico em Panificação no Centro de Formação Profissional do SENAI Américo Renê Giannetti, em Belo Horizonte. Para ele, a tecnologia garante produtos mais sofisticados. Embora jovem, Gabriel sabe que antes quase tudo era feito manualmente. “Você pegava a farinha e o fermento, batia na mão e ia fazendo no olho mesmo”, conta. Agora, Gabriel explica que o processo tecnológico deixou tudo mais prático, além de aumentar a produtividade. Ouça clicando aqui.
Atualmente Gabriel trabalha na padaria Frigoart, em Santa Luzia, na região metropolitana de BH. Para ele, o domínio dessas tecnologias é essencial para se manter no mercado de trabalho e conquistar novas oportunidades.
CONFEITARIA - Um confeiteiro, por sua vez, deve dominar habilidades como noções de relações interpessoais, de gestão, de qualidade, higiene, segurança do trabalho, noções básicas de informática, cálculo de formulações, operação de máquinas de alimentos e noções de mecânica. Até pouco tempo atrás, exigia-se desse trabalhador pouco conhecimento em utilização de técnicas apropriadas à profissão, como o domínio de receitas e habilidades para manusear os ingredientes.
Hoje, as exigências aumentaram em formas de competências como a análise do processo produtivo, elaboração e aplicação de fluxo de trabalho, conhecimento de princípio de segurança no trabalho e aplicação de técnicas pertinentes a Pâtisserie . “A evolução na confeitaria acontece com a inclusão de novos equipamentos que auxiliam na produção, com um ganho em qualidade no processo e no produto final. Equipamentos como ultracongelador, derretedeiras elétricas, e uma infinidade de utensílios que proporcionam ganho de tempo e qualidade”, enfatiza Elisabeth Novaes, técnica de Alimentos do SENAI de São Paulo.
MECÂNICA AUTOMOTIVA - Supervisor de Educação Profissional do SENAI, também em São Paulo, Edson da Silva recorda que um mecânico de automóvel não precisava ter mais que experiência em mecânica básica para atuar no mercado antes da década de 1990. Especializado em tecnologia automotiva e professor durante 26 anos, ele acompanhou toda a evolução tecnológica do setor. “Hoje, o profissional da área tem que dedicar mais tempo aos estudos, porque a evolução é constante. Quem não se atualiza, perde o emprego. Por outro lado, se a empresa não valorizar esse profissional, ele se tornará engenheiro e deixará a área”, diz.
Edson da Silva observa que, no começo da década de 1990, a eletrônica passou a ser timidamente inserida no setor automobilístico brasileiro, por meio da injeção eletrônica – usada para reduzir a emissão de poluentes. Posteriormente, com sistemas de segurança, como o airbag e o freio ABS, antes de a tecnologia dominar os itens de conforto do carro, como a regulagem de banco e o ar-condicionado. “A eletrônica foi invadindo o automóvel. No passado, mecânico fazia a parte mecânica e o eletricista, a parte eletrônica. Com a fusão da eletroeletrônica, as coisas se misturaram. A formação do profissional mudou muito. Estamos hoje consertando um carro que seria equivalente à nave espacial que foi para a lua na década de 1960”, compara.
CAPACITAÇÃO - O especialista em Desenvolvimento Industrial do SENAI Marcello Pio afirma que a capacitação do profissional da área técnica, seja qual for, está diretamente relacionada à produtividade. Para ele, a falta de conhecimento do profissional em novas tecnologias implica na subutilização tecnológica. “Isso acontece quando há um pessoal que subutiliza o equipamento, que podia estar rendendo 90% e está rendendo 50% ou 70%, longe da capacidade produtiva ideal”, explica o especialista do SENAI.
“Se fizermos um recorte ou uma análise da evolução, dos anos 1990 para cá, nesses setores intensivos em mão de obra, como têxtil, calçados, panificação e confeitaria, observamos uma busca pelo aumento da produtividade e, consequentemente, em ser menos intensivo em mão de obra e mais intensivo em capital, o que significa ter mais equipamentos e sistemas mais automatizados para que o fator humano influencie menos nesse processo e que se alcance mais produtividade”, acrescenta Pio.