Apoio do Sistema Fiems e incentivos do Governo ampliam desempenho da indústria na Capital

Em 2007, o município tinha 1.629 indústrias instaladas e, até maio deste ano de 2012, esse montante subiu para 2.517 estabelecimentos, o que representa um crescimento de 54,51%

Ao completar 113 anos neste mês de agosto, Campo Grande vivencia um momento de fortalecimento da indústria, que foi iniciado em 2007 graças, em grande parte, aos incentivos fiscais oferecidos pelo Governo do Estado aliados ao apoio disponibilizado pelo Sistema Fiems, por meio do Sesi, Senai e IEL, com ações de educação básica e profissional, serviços de saúde, de lazer, técnicos e tecnológicos e encaminhamento para estágio. Nos últimos cinco anos, conforme levantamento do Radar Industrial da Fiems, o setor apresentou um crescimento vertiginoso, tanto no número de estabelecimentos industriais, quanto na quantidade de trabalhadores empregados nas indústrias.

Em 2007, o município tinha 1.629 indústrias instaladas e, até maio deste ano de 2012, esse montante subiu para 2.517 estabelecimentos, o que representa um crescimento de 54,51%, enquanto a quantidade de trabalhadores atuando com carteira assinada nessas empresas subiu de 30.941 industriários em 2007 para 42.628 até maio deste ano, significando uma alta de 37,77%, além disso, esse contingente já movimenta uma massa salarial de R$ 578,6 milhões por ano. Quando a data de análise é 1996, os índices de crescimento são ainda maiores, saltando para 141,7% no caso do número de trabalhadores, saindo de 17.638 para 42.628, e para 111,9% em relação à quantidade de estabelecimentos industriais, partindo de 1.188 indústrias para 2.517.

O setor ainda é responsável por 85% de tudo que é exportado pelo município, gerando receita de US$ 267 milhões no ano passado, além de representar 18,7% do PIB (Produto Interno Bruto) de Campo Grande, que, conforme 2009, último dado oficial disponível, está em torno de R$ 9,69 bilhões. Ainda no período de 2007 a 2012, o Sistema Fiems promoveu o atendimento de 784.104 pessoas por meio de ações de saúde, educação, lazer e cidadania do Sesi, além de oferecer formação profissional para 35.109 pessoas com cursos de educação profissional do Senai e encaminhar para estágio 18.748 estudantes com supervisão do IEL. “Ao longo desses 5 anos, que coincidem com a gestão da atual Diretoria do Sistema Fiems, foram feitos inúmeros investimentos, que contribuíram, de forma decisiva, com desenvolvimento do setor industrial no município de Campo Grande”, pontuou Sérgio Longen, presidente da Fiems.

Ele acrescenta entre essas ações está a criação do Programa Ação Fiems Campo Grande, que leva cursos gratuitos de formação profissional do Senai e cursos de inclusão digital do Sesi. No 1º ano do Programa, 2011, foram formados 1,7 mil trabalhadores e, para este ano, a previsão é capacitar mais 5,6 mil pessoas. Além disso, foi lançado, no 2º semestre deste ano, o Senai Educa Qualificação, que disponibiliza 28 mil vagas em 143 cursos de formação profissional em 23 cidades, incluindo a Capital.

Em parceria com a Pró-Vida, está sendo construida a nova sede da FatecSenai Campo Grande, que atuará na formação de trabalhadores em áreas profissionais relacionadas à gestão e automação industrial. Além disso, o Clube do Sesi da Capital foi revitalizado, foram construídas 2 bibliotecas da Indústria do Conhecimento do Sesi e criada a Meia-Maratona Internacional do Pantanal Volta das Nações, que já se tornou um dos maiores eventos de atletismo do País.

Na avaliação da secretária estadual de Desenvolvimento Agrário, da Produção, da Indústria, do Comércio e do Turismo, Tereza Cristina Corrêa da Costa Dias, Campo Grande é uma cidade que tem atraído os mais diversos segmentos da indústria por ser uma capital com boa infraestrutura. “O Aeroporto Internacional e a criação de polos industriais também contribuem bastante com esse processo de desenvolvimento. Hoje, a cidade abriga muitos empreendimentos do setor têxtil e de confecção, o que, particularmente, considero muito bom porque gera emprego para a mão de obra feminina”, pontuou.

Ela acrescenta ainda que a Capital do Estado também está dando um salto e diversificando o setor industrial, agora com empresas voltadas para inovação e tecnologia. “Isso demonstra que também estamos evoluindo no quesito mão de obra qualificada. Exemplo disso é a vinda de duas novas indústrias – de helicóptero e de computadores -, que já estão em fase de implantação. Acredito que tudo isso nos leva a crer que a Capital do nosso Estado caminha na direção certa”, opinou.

Infraestrutura

Apesar desse avanço, o setor industrial ainda enfrenta problemas graves no município de Campo Grande, que deixa de oferecer condições ideais para atrair novas indústrias ou mesmo manter as empresas já instaladas. O principal gargalo nesse sentido é a falta de infraestrutura nos quatro polos empresariais em funcionamento: Polo Empresarial Norte Miguel Letteriello, localizado na BR-163 e com área de 50 hectares; Polo Empresarial Oeste Conselheiro Nelson Benedito Netto, localizado próximo ao Aeroporto Internacional e com área de 243 hectares; Polo Empresarial Paulo Coelho Machado, que fica na região urbana do Anhanduizinho e tem 2,1 hectares; e Núcleo Industrial, que fica na saída para Terenos e tem 200 hectares.

Para o empresário João Paulo Medeiros Piotto, proprietário da Pajoara Indústria e Comércio de Rações, localizada no Núcleo Industrial, Campo Grande deixou de ser atrativa para a classe empresarial porque não oferece nenhuma estrutura. “Temos uma filial em Anápolis (GO), onde tudo é menos burocrático, com mais apoio da Prefeitura. Estamos instalados aqui há 20 anos e há uma supervalorização do terreno na hora de estipular o valor do IPTU (Imposto sobre Propriedade Territorial e Urbana), enquanto em outros polos esse imposto nem é cobrado. Somos o 1º polo industrial, mas fomos abandonados. Nós estamos ampliando, gerando mais emprego e não temos um retorno para esse incentivo”, garantiu.

Ele informa que todos os funcionários da indústria moram no Núcleo Industrial e precisam de uma estrutura que proporcione boas condições de moradia. “O posto de saúde é muito precário e básico. Os funcionários, quando necessitam de atendimento, utilizam o plano de saúde que a empresa oferece. Outro ponto que incomoda é a questão da sinalização, há poucos quebra-molas e a avenida é extensa. A iluminação também é precária”, exemplificou. Já o empresário Ricardo Abdalla, diretor da Cartonagem São José, localizada no Polo Empresarial Norte, destaca que o local não é asfaltado, com exceção da rua principal, mas, mesmo assim, a via não tem redutores de velocidade.

“É inexplicável que um polo empresarial seja tratado dessa forma pela administração municipal. Trata-se de vidas que estão em perigo devido à falta de cuidado com o trânsito, pois os caminhões trafegam em alta velocidade e existe o perigo ao atravessar a via para aqueles que pegam ônibus do outro lado. Enquanto isso a população sofre. Além disso, o polo abriga dezenas de funcionários e não tem um Ceinf (Centro de Educação Infantil) com horário mais adequado aos trabalhadores das indústrias”, cobrou Ricardo Abdalla.

O gerente de produção Sérgio Azevedo, da TDB Têxtil, que está localizada no Polo Empresarial Oeste, informa que uma das principais carências do polo é o transporte coletivo urbano para atender os funcionários que moram em diversas regiões de Campo Grande. “Outro problema é que 90% do nosso quadro de funcionários é formado por mulheres, que têm filhos e necessitam de uma creche próxima para deixar as crianças. Na minha opinião, a Prefeitura deveria construir um núcleo habitacional mais próximo para trazer a população para perto da indústria, pois hoje temos dificuldades de preencher as nossas vagas em decorrência da localização do polo”, garantiu.

Na avaliação da consultora de recursos humanos Magali Casanova Dal Magro, da Soprano, localizada no Núcleo Industrial, a Prefeitura quer estimular o desenvolvimento industrial, mas não oferece uma estrutura para que isso aconteça. “Nessa região há uma dificuldade com o transporte, por isso optamos por um serviço de transporte particular. Justamente pela distância ficamos sem opções, pois todos têm que se deslocar ao terminal Júlio de Castilho para chegar até aqui, muitas vezes parando distante, no núcleo industrial, que fica a cerca de 8 km. O transporte particular fica em torno de 20% mais caro. Outro problema enfrentado pelas trabalhadoras que são mães é que o horário de funcionamento das creches não bate com o nosso”, enumerou.

Hoje, conforme a Assessoria de Imprensa da Prefeitura Municipal de Campo Grande, as principais modalidades de incentivos oferecidos pelo município são: doação de terreno para a construção das obras necessárias ao funcionamento das empresas; execução de serviços de infraestrutura necessários à edificação de obras civis e de vias de acesso; e redução ou isenção de tributos municipais. Na área do ISSQN (Imposto Sobre Serviços de Qualquer Natureza), a Prefeitura oferece redução ou isenção dos encargos tributários, incidentes sobre obras de construção ou ampliação de edificações e aqueles decorrentes de incentivos ao turismo receptivo – organização de congressos, convenções e seminários.

Industriários

Os problemas de infraestrutura nos polos empresariais de Campo Grande apontados pelos empresários são reforçados pelos industriários. Para Ronnie Rodrigues Silva, 31 anos, operador de caldeira da Pajoara Indústria e Comércio, a falta de posto de saúde é o principal agravante, pois a unidade destinada para a região também atende os bairros Sarandi, Tuiuiú e Jardim Inápolis. “Uma demanda grande para um atendimento muito básico, o que acaba não atendendo a nossas necessidades”, reclamou.

Já Selma Regina de Oliveira, 38 anos, costureira da TDB Têxtil, destaca a dificuldade para conseguir chegar e sair do local de trabalho utilizando o transporte coletivo urbano. “Faltam ônibus para nos transportar nos horários de entrada e saída. Hoje, temos que nos deslocar até a rodovia para conseguir ônibus em outros horários que não têm muito movimento”, exemplificou. A também costureira industrial da TDB Têxtil, Marciana Rocha da Silva, 57 anos, completa que o número de ônibus é pequeno para atender o fluxo de trabalhadores que tem crescido por causa do polo industrial.

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