Produtividade na indústria cai em 2024 e interrompe ciclo de alta, aponta CNI

Queda é resultado de aumento mais acentuado das horas trabalhadas em relação à produção. Novos postos de trabalho e tempo de treinamento de novos trabalhadores podem ser explicação

A produtividade do trabalho na indústria de transformação caiu 1,3% no primeiro trimestre de 2024, comparado ao quarto trimestre de 2023, segundo a Confederação Nacional da Indústria (CNI). Com isso, a trajetória de alta, apresentada pela pesquisa Produtividade na Indústria no ano passado, sofreu interrupção. A queda se deu por um aumento de 1% da produção, enquanto houve um crescimento mais acentuado das horas trabalhadas, de 2,3%. Apesar do resultado de retração, ainda seria precipitado afirmar se essa será uma mudança de trajetória.


“Quando medimos a produtividade do trabalho pelo número de trabalhadores, por exemplo, o indicador mostra estabilidade. Mas quando analisamos por horas trabalhadas, há queda. Isso está ligado, em parte, ao fato de que há novos postos sendo abertos e é necessário um período de treinamento e adaptação até que essa força de trabalho se torne mais produtiva”, explica a gerente de Política Industrial da CNI, Samantha Cunha.


O levantamento mostra ainda que a demanda por bens manufaturados, que tem crescido de forma consistente nos últimos cinco meses, registrou alta de 5,2% em março, quando comparada a outubro do ano passado. Porém, essa demanda tem sido atendida principalmente por bens importados, visto que a produção nacional cresceu 1,9% no mesmo período de comparação.

“É importante destacar que há espaço para a produção da indústria nacional continuar crescendo. A expectativa é de que a produtividade se recupere, a partir de acomodação das horas trabalhadas e do crescimento mais acelerado da produção”, enfatiza Samantha Cunha.

A Produtividade na Indústria fechou 2023 em queda

Em 2023, a produtividade do trabalho na indústria de transformação caiu 0,5%, comparado a 2022. Este é o quarto ano consecutivo de recuo do indicador, que acumula queda de 8,5% em relação a 2019, último ano de crescimento da produtividade.

A perda de produtividade é resultado de uma queda de 1% na produção, acompanhada de menor redução nas horas trabalhadas (-0,5%).

Quando a análise é trimestral, houve melhora em três dos quatro trimestres, o que levou a uma redução no ritmo de queda do índice, comparado aos resultados de 2021 (-4,7%) e de 2022 (-3,0%).

Principais problemas que afetaram a indústria de transformação em 2023

A indústria teve dificuldade de elevar a produção ao longo do ano por conta da baixa demanda por bens manufaturados, que caiu 1,7% em 2023.

A demanda interna insuficiente foi um dos principais problemas enfrentados pela indústria ao longo do ano passado, de acordo com a Sondagem Industrial da CNI. Essa é uma das questões apontadas pelos empresários industriais desde o quarto trimestre de 2022, impactando cerca de 30% das empresas.

Na última década (2013-2023), a produtividade acumulou queda de 1,2%. Esse resultado reflete redução de 16,5% nas horas trabalhadas e redução maior no volume produzido, de 17,4%.

Na primeira metade da década, até 2018, a produtividade acumulou um crescimento de 7,1%. Esse ganho, no entanto, foi mitigado pela queda de 7,8% observada na segunda metade da década.

A demanda retraída e as elevadas taxas de juros foram entraves para o aumento do investimento. Para a CNI, a retomada desse investimento é fator-chave para a produtividade seguir uma trajetória de crescimento de forma mais acelerada e sustentada.

Mais sobre a Produtividade na Indústria

A publicação Produtividade na Indústria acompanha a evolução da competitividade da indústria brasileira em relação à dos principais parceiros comerciais, com foco no indicador de produtividade do trabalho - determinante da competitividade.

A cada trimestre, a análise apresenta o indicador de produtividade do trabalho na indústria brasileira e, uma vez por ano, o indicador de produtividade relativa efetiva, incluindo os indicadores de produtividade do trabalho nas indústrias dos principais parceiros comerciais do Brasil.

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