O Sistema Indústria e a rede de apoio para superar a crise

Diversos cursos e ferramentas são oferecidos para tornar as empresas mais competitivas e auxiliá-las a enfrentar um cenário econômico desafiador

Serviços como os oferecidos pelos Institutos SENAI de Inovação podem ser cruciais para enfrentar momentos de incerteza como o atual

No início de 2021, depois de comprar a empresa Cheiro da Flor, especializada em experiências sensoriais e olfativas, a empreendedora Ludmylla Abreu, do Tocantins, percebeu que era preciso melhorar a gestão e buscar novos mercados. Após pesquisar, descobriu dois cursos de capacitação oferecidos pela Federação das Indústrias do Estado do Tocantins (FIETO): o Na rota da exportação e o Ela faz indústria. “São cursos que preparam as empresas para o cenário atual”, elogia.

A participação da empresa no Ela faz indústria foi concluída com a exposição dos principais produtos num shopping de Palmas, capital do Tocantins. “Eu fiquei uma semana com minha marca no shopping. Não pude fazer a venda direta ali, mas estava divulgando”, conta Ludymilla, que, apesar disso, conseguiu fazer algumas vendas e ganhou como cliente o próprio shopping, com o qual fechou um contrato para criar um aroma específico para o centro comercial.

Na avaliação do presidente da FIETO, Roberto Pires, o empresário da indústria enfrenta inúmeras dificuldades diariamente e identificar os principais gargalos permite atuar de maneira assertiva na apresentação de soluções que o auxiliem a superar os desafios impostos pela crise.


“A partir da pandemia, esses desafios se tornaram ainda maiores. O alto custo da matéria-prima e as incertezas do cenário internacional provocaram retração no mercado. Com isso, o apoio do Sistema Indústria ao empresário se tornou ainda mais importante”, explica Pires


Além do desenvolvimento de aromas para empresas, comércios, eventos e residências, a Cheiro da Flor produz e vende sabonetes, velas, álcool em gel, difusores e projetos de aromatização manual ou automática. “Se olhar pelo ponto de vista do investimento que fizemos no projeto Ela faz Indústria para receber todas as capacitações e ainda ficar uma semana com seu produto exposto no shopping, foi um custo muito baixo para um retorno muito grande”, explica Ludmylla.

Tanto o Na rota da exportação quanto o Ela faz indústria são exemplos de serviços oferecidos pelo Sistema Indústria para apoiar as empresas, seja em momentos de incerteza econômica, como o atual, seja nos períodos de crescimento. Integram a rede do Sistema Indústria o Serviço Social da Indústria (SESI), o Serviço Nacional de Aprendizagem Industrial (SENAI), o Instituto Euvaldo Lodi (IEL), as federações da indú stria estaduais e distrital e 1.280 sindicatos patronais industriais.

Espera ativa 


“É a união de nossa categoria que nos estimula e nos provoca, como industriais e empreendedores, a buscar meios de superar os momentos de crise”, diz o presidente da Associação Brasileira da Indústria de Plástico (Abiplast), José Ricardo Coelho Roriz.


Roriz costuma chamar esses momentos de “espera ativa”. Hoje, além das incertezas no ambiente internacional, com a Guerra na Ucrânia e a longa pandemia, há também problemas no ambiente doméstico, com o aumento da inflação, a alta da taxa básica de juros e a eleição presidencial deste ano.

Ludmylla Abreu (de preto), dona da Cheiro da Flor, elogia os cursos oferecidos pela FIERTO: “Preparam o empresário para o cenário atual”

No entanto, segundo Roriz, é importante entender que o contexto atual vai passar, e as empresas devem aproveitá-lo para ajustar processos, produtos, canais de distribuição, entre outros aspectos do negócio, isto é, tornar-se mais competitivas e colher os frutos disso no momento de recuperação da atividade econômica.

É exatamente esse um dos objetivos da Cheiro da Flor ao procurar os serviços oferecidos pela FIETO. “[No curso] Na rota da exportação, a gente tem as consultorias om o passo a passo de como levar a empresa a um nível de exportação, desde o rótulo do produto até a nomenclatura internacional para identificá-lo”, diz Ludmylla. “Vemos, também, que tipo de produto cada região poderia comprar, que tipo de produto seria interessante para cada país. É uma capacitação completa”, avalia ela.

Essa, contudo, não foi a primeira vez que a Cheiro da Flor recorreu aos serviços do Sistema Indústria. Antes da pandemia, quando a empresa ainda não era administrada por Ludmylla, houve uma rodada de crédito com bancos que ofereciam empréstimos por meio do Núcleo de Acesso ao Crédito (NAC), programa criado em 2015 que já apoiou mais de 12 mil empresas brasileiras. Por meio de uma rede presente em 24 unidades das Federação e no Distrito Federal, a equipe de especialistas do NAC orienta e ajuda as empresas a identificarem as linhas de crédito mais vantajosas para seu negócio.

“O papel do NAC é informar e facilitar”, diz José Luiz Diniz, assessor da vice- -presidência da Federação das Indústrias do Distrito Federal (FIBRA). Ele cita como exemplo um convênio em âmbito nacional com a Caixa Econômica Federal, que começou apenas em Brasília e depois foi ampliado para todo o país. Acertada em 2020, a parceria com a Caixa tem o objetivo de facilitar o acesso a financiamento. Os recursos disponíveis são de linhas como Giro CAIXA, Pronampe, Fundo de Aval às MPEs (FAMPE) e Fundo Garantidor para Investimentos (FGI).

Juntas, as instituições movimentaram R$ 166,8 milhões em crédito para Micro e Pequenas Empresas (MPEs) nos últimos dois anos. De acordo com o levantamento feito pelo NAC, os maiores volumes foram solicitados no Distrito Federal, no Paraná e em São Paulo, que responderam por, respectivamente, R$ 90,5 milhões, R$ 23 milhões e R$ 12 milhões. Ao todo, 385 contratos foram firmados em todo o país. A Rede NAC é a responsável por fazer a conferência dos documentos, a seleção das empresas que buscam crédito e o envio para a Caixa, após os interessados preencherem o formulário de inscrição no site.

João Baptista de Lima Guimarães, responsável pelo NAC da Federação das Indústrias do Estado do Paraná (FIEP), destaca que o papel do núcleo “é entender a real necessidade que o empresário tem e, com essa informação, conversar com os agentes financeiros, que podem ser públicos, privados ou cooperativas, para tentar identificar as linhas de crédito com as melhores condições de atender àquela necessidade específica”. Segundo ele, no Paraná, foram atendidas 400 empresas em 2020 e 210, em 2021.

José Ricardo Roriz (Abiplast) acredita que a crise atual é uma oportunidade para que as empresas se capacitem.

Amaro Sales de Araújo, presidente da Federação das Indústrias do Estado do Rio Grande do Norte (FIERN), informa que, noestado, o NAC tem orientado sobre as principais linhas de financiamento e a procura vem, principalmente, de microempresas e MEIs em busca de capital de giro. “A grande parte dos que procuram os serviços do NAC chega por meio do site do BNDES, onde constam as Federações como entidades parceiras. No Rio Grande do Norte, nos meses de janeiro e fevereiro deste ano, o BNDES realizou 43 operações, totalizando R$ 5,9 milhões, sendo o Bradesco o principal operador”, informa.

Plataforma para a inovação

Sob responsabilidade do SENAI, a Plataforma Inovação para a Indústria, lançada em março deste ano, disponibilizou R$ 152 milhões para o financiamento de soluções inovadoras em seis categorias: Habitats de Inovação, Aliança Industrial, Aliança Agenda Tech, Empreendedorismo Industrial, Missão Industrial e Chamada Regional. A plataforma financia o desenvolvimento de produtos, processos ou serviços inovadores, para aumentar a produtividade e a competitividade da indústria brasileira, que ainda está mal posicionada no Índice Global de Inovação.

O valor anunciado é 50% maior que em 2021, quando foram investidos R$ 102 milhões para o desenvolvimento de projetos inovadores. Parte do valor usado no financiamento de novos projetos em pesquisas e desenvolvimento de tecnologias e inovação é aplicada pelo SENAI, por parceiros e pela contrapartida das empresas. Com esse recurso, elas podem inscrever projetos nasáreas automotiva, química, metalmecânica, automação, meio ambiente, tecnologia da informação e farmacêutica, entre outras.

O superintendente de Inovação e Tecnologia do SENAI, Jefferson Gomes, destaca que a instituição tem, hoje, vários produtos e processos, que vão desde inovações mais simples até projetos de pesquisa complexos, como é o caso de empresas que já soltaram satélites no espaço ou que desenvolveram submarinos autônomos.


“Tem o arcabouço de projetos grandiosos, como o de uma vacina, mas também existem projetos para ajudar uma pequena e média empresa a desenvolver seu produto”, afirma ele.


Gomes explica que o SENAI atua em duas frentes no apoio às empresas: inovação e produtividade, com a oferta de diversos serviços e consultoria em cada uma delas. “Na parte de produtividade, você tem esse mundo do cotidiano, técnicas organizacionais, técnicas tecnológicas para colocar nas empresas e, daí, o SENAI e o SESI trabalham constantemente o dia a dia dessas empresas”, diz Gomes.

Desde que foi criada, em 2004, a plataforma já selecionou mais de mil projetos inovadores, nos quais foram investidos mais de R$ 900 milhões, relata Gomes. As propostas escolhidas recebem recursos e apoio para desenvolvimento de uma prova de conceito, passando por processos de validação, de protótipo e de teste na rede de inovação e tecnologia do SENAI. Os projetos resultaram em novos produtos, processos ou serviços de caráter inovador, incremental ou radical, atendendo até hoje a mais de 1.200 empresas.

A Rede de Institutos SENAI de Inovação foi criada em 2013 com o intuito de atender às demandas da indústria nacional. Os investimentos realizados já somam R$ 1,2 bilhão, aplicados em 1.332 projetos de Pesquisa, Desenvolvimento e Inovação (PD&I). A estrutura conta com mais de 920 pesquisadores, sendo que cerca de 45% possuem mestrado ou doutorado. Por serem reconhecidos como Instituições de Ciência e Tecnologia (ICT), os Institutos SENAI de Inovação possuem acesso a diversas fontes de financiamento não reembolsáveis para projetos de PD&I.

MEI Tools

Outra plataforma criada pela CNI é a MEI Tools, que reúne instrumentos de inovação disponíveis no Brasil e traz informações sobre linhas de fi nanciamento para startups. Atualizado trimestralmente, o site oferece informações sobre um conjunto de ferramentas para fortalecer a capacidade de inovação das empresas. Há duas maneiras de consultar o conteúdo: fazendo download da publicação ou usando a ferramenta de busca do site, por meio de filtros.

“É, basicamente, um catálogo em que reunimos informações que a empresa precisa saber para conseguir apoio para o seu projeto de inovação”, explica Marcos Braga Arcuri, especialista de desenvolvimento industrial da CNI. Segundo ele, a rede de parceiros MEI Tools é composta por instituições públicas e privadas de todo o Brasil. Ali é possível encontrar desde financiamentos e linhas especiais do BNDES, da FINEP e de bancos de desenvolvimento estaduais até instrumentos de subvenção – dinheiro não reembolsável para apoiar projetos de inovação.

Entre os serviços oferecidos pelo Sistema Indústria, Arcuri cita a parceria com a SOSA, empresa israelense de inovação aberta que possui uma base de milhares de startups. O acordo possibilita que indústrias e startups no Brasil tenham acesso a ecossistemas de tecnologia em Nova Iorque e Tel Aviv. Em julho de 2021, seis startups brasileiras que trabalham com tecnologias inovadoras nas áreas de cidades inteligentes, indústria 4.0, segurança 13 Revista Indústria Brasileira abril 2022 Revista Indústria Brasileira cibernética, biotecnologia e segurança e defesa participaram da primeira edição do programa Land to Launch, realizada virtualmente.

“A parceria traz esse conhecimento e essa base global de startups do SOSA para o Brasil e oferece às empresas brasileiras um serviço de inovação aberta global, que antes não existia aqui no país”, detalha Arcuri. Por meio da rede global do SOSA, o programa também oferece acesso a empresas multinacionais, investidores e especialistas em tecnologia. Segundo ele, outro produto bastante importante é o programa de imersões em ecossistemas de inovação.

"Os serviços do SENAI e do SESI têm longa e sólida experiência em apoiar as empresas e seus trabalhadores", diz Antonio Carlos da Silva, presidente da FIEAM.

“O programa de imersão permite entender como esses ecossistemas funcionam e de que forma eles impulsionam a inovação, em contextos distintos e em setores com diferentes focos. Além disso, apresenta um modelo de referência para que eles retornem ao Brasil com novas ideias e com vontade de empreender, estabelecer e criar novas soluções aqui no país”, resume.

Suspenso por causa da pandemia, o programa de imersões será retomado neste ano. Estão previstas quatro edições presenciais ao longo de 2022, em Israel, na Alemanha, na Finlândia e na China. A iniciativa é da Mobilização Empresarial pela Inovação (MEI), que faz parte da agenda de Inserção Global via Inovação. A intenção é promover interação entre empresários, executivos, acadêmicos e representantes do governo brasileiro com atores estratégicos dos principais ecossistemas de inovação do mundo.

Em parceria com o Serviço Brasileiro de Apoio às Micro e Pequenas Empresas (Sebrae), a CNI lançou também o Ajude aqui. Segundo Gustavo Reis Mello, analista de competitividade do Sebrae, “esse é um serviço inovador ao colocar à disposição das empresas especialistas o tema de comércio exterior, tanto na questão de importação quanto na de exportação”. Ele explica que as empresas terão acesso ao conhecimento e resposta a dúvidas apresentadas em menos de 24 h. “Acreditamos que vamos conseguir desmistificar pelo menos um pouco essa questão do comércio internacional para os pequenos negócios”, conclui. O aumento da base de indústrias exportadoras no país pode ser um fator decisivo para melhorar a posição do Brasil no ranking de exportação da Organização Mundial do Comércio (OMC), atualmente na 25a posição, segundo dados de 2021.

“Em muitos estados, como no Amazonas, os serviços do SENAI e do SESI existem há mais tempo que as próprias federações de indústria”, diz Antonio Carlos da Silva, presidente da Federação das Indústrias do Estado do Amazonas (FIEAM). “Esse dado mostra como é longa e sólida a experiência do Sistema em apoiar as empresas e seus trabalhadores”, lembra o dirigente

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