Jovem deve pensar a longo prazo e se qualificar desde cedo

Em entrevista à Agência CNI de Notícias, o diretor de Operações do SENAI, Gustavo Leal, fala sobre emprego na Indústria 4.0 e afirma que a população que está com 40, 50 anos também precisa projetar o futuro. A requalificação desse perfil da sociedade é necessária

A taxa de desemprego entre o público jovem foi de 30% em 2017, maior taxa desde 1991, segundo a Organização Internacional do Trabalho (OIT). Para os jovens, conseguir um espaço no mercado de trabalho é um grande desafio. A capacitação, a visão de futuro e o comportamento profissional são algumas das características necessárias para que o aluno tenha sucesso em seu projeto de vida, explica o diretor de operações do Serviço Nacional de Aprendizagem Industrial (SENAI), Gustavo Leal . 

Em entrevista à Agência CNI de Notícias, Leal explica quais profissões terão mais destaque na Indústria 4.0 e ressalta a importância para os jovens de um boa qualificação profissional. 

AGÊNCIA CNI DE NOTÍCIAS - A economia deve crescer 2,6% e a taxa de desemprego cairá para 11,8%, apontam estimativas da Confederação Nacional da Indústria (CNI). Com essa perspectiva, como o jovem pode se preparar para o mercado de trabalho? 

GUSTAVO LEAL -  Ele pode se preparar se qualificando. Porque quanto mais qualificada estiver a pessoa, mais chance ela tem de encontrar boas oportunidades. Ela pode e deve optar por cursos ligados à formação técnica e educação profissional, pois dialoga com proximidade com o mundo do trabalho. 

AGÊNCIA CNI DE NOTÍCIAS - O documento Tendências Globais de Emprego para a Juventude 2017, elaborado pela Organização Internacional do Trabalho (OIT), estima que o desemprego entre jovens brasileiros tenha atingido 30% em 2017, maior taxa desde 1991. Qual o caminho para quem não quer fazer parte dessa estatística? 

GUSTAVO LEAL -  Quem gera emprego é a empresa. Então a taxa de desemprego tem muito a ver com o crescimento da economia. Nós acabamos de passar pela maior recessão da história do país. É natural que as taxas de desemprego se elevem. A educação profissional constrói um conjunto de competências que torna os jovens mais atrativos para o mercado de trabalho. A educação profissional conversa com as necessidades das empresas  e transforma essas necessidades em competências que serão desenvolvidas nos cursos. Com isso, os jovens que se matriculam na educação profissional terminam adquirindo um perfil muito mais aderente às necessidades das empresas. E é isso que traz mais oportunidades.

AGÊNCIA CNI DE NOTÍCIAS - O medo de não conseguir uma oportunidade de emprego ao concluir um curso de graduação ou técnico preocupa os jovens principalmente por causa da crise política e econômica que o país vem enfrentando. Como o SENAI atua para aproximar esses jovens do mercado? 

GUSTAVO LEAL - O SENAI dialoga muito com as empresas, a gente conversa permanentemente com elas. E por isso, o SENAI tem nos seus cursos um nível de aderência muito grande às necessidades da indústria. Então, quando o SENAI oferta uma série de cursos, ele o faz porque entende que é essa a necessidade das empresas. Portanto, o SENAI é uma belíssima alternativa para os jovens que estão querendo emprego na área industrial. Eles devem procurar se qualificar melhor. 

AGÊNCIA CNI DE NOTÍCIAS -  Qual a melhor opção, o curso técnico ou a graduação? 

GUSTAVO LEAL - O curso técnico, no estudos que  nós temos no SENAI, aumenta em cerca de 20% o salário das pessoas se você comparar o mesmo perfil com aqueles que não têm curso técnico. Mas a maior vantagem é se você olhar para médio e longo prazo. Quem faz um bom curso técnico consegue crescer na empresa com muito mais rapidez. Isso também pavimenta a carreira desse jovem, ele pode e deve continuar seus estudos fazendo uma boa formação também de ensino superior na sequência. 

Há uma alternativa de crescimento da carreira pelo viés da educação profissional que é pouco conhecida no Brasil. Um jovem que faz ensino regular ao mesmo tempo do curso técnico se forma e consegue um emprego ou estágio muito mais cedo pelo viés do curso técnico. Ele começa a trabalhar, a ter renda e, com isso, financia seu estudo para fazer um bom curso superior de tecnologia, por exemplo. Depois ele pode continuar fazendo um bacharelado na área em que já está atuando e chegar ao mestrado profissional, por exemplo.

AGÊNCIA CNI DE NOTÍCIAS - É possível dizer quais são as profissões com mercado mais promissor? 

GUSTAVO LEAL - A indústria está vivendo uma verdadeira revolução no mundo inteiro a partir da utilização das tecnologias digitais no ambiente da produção. O ambiente de conectividade, de interação, do homem com máquina e da máquina com homem, é o que chamamos de Indústria 4.0. Isso tudo traz um enorme potencial, um novo choque industrial. Assim, surgem grandes oportunidades.

A partir dos estudos e do diálogo do SENAI com a indústria, a gente observa que o chão de fábrica vai mudar muito nos próximos anos. Assim, é importante que os jovens adquiram conhecimentos ligados às áreas de informática, programação, automação e de sensores. Existe aí um conjunto de competências técnicas que são cada vez mais transversais e independem de que setor o jovem vá trabalhar. Qualquer que seja a fábrica, de qualquer setor, vai ser importante que ele detenha esses conhecimentos.

AGÊNCIA CNI DE NOTÍCIAS -  E como fica a questão do emprego na era da Indústria 4.0 e da robotização da mão de obra?

GUSTAVO LEAL - Toda vez que há uma mudança industrial importante o mercado se transforma e as pessoas têm que se preparar para esse novo mundo. Com a mudança de paradigma industrial, o emprego não vai desaparecer, essa é a nossa crença. Desde a primeira revolução industrial, o que acontece é que quando as novas tecnologias migram para o mundo do trabalho, elas aumentam, e muito, a produtividade do trabalho. Então, ao longo desses 200 anos, o tempo da primeira revolução industrial, o que a gente observa é isso: um aumento brutal dessa produtividade no mundo. As taxas de desemprego se mantiveram mais ou menos flutuando com os ciclos da economia, ou seja, o trabalho humano não se torna desnecessário em função das novas tecnologias.

Isso aconteceu em todos os choques tecnológicos do passado e vai acontecer agora também. Agora, o trabalho muda. O trabalho repetitivo e rotineiro será substituído por robôs, isso já está acontecendo. A população de robôs no mundo tem crescido de forma exponencial. Com a inteligência artificial, com essas novas tecnologias, começam-se a automatizar, também, algumas ocupações que não são repetitivas e que exigem uma capacidade de decisão. O exemplo mais próximo é o carro autônomo, que já é uma realidade e daqui a pouco estará aí com uma fatia de mercado interessante.


AGÊNCIA CNI DE NOTÍCIAS -  Que comportamento profissional o jovem precisar ter para se inserir de forma qualificada no mercado?

GUSTAVO LEAL - Um conjunto de conhecimentos que vem ganhando muita relevância é o que nós chamamos aqui de soft skills, competências que têm a ver com a capacidade do jovem de ter pensamento abstrato, raciocínio analítico, de ser inovador, criativo, saber expressar suas ideias e ter capacidade de solução de problemas. Esse é o ambiente da indústria moderna, você precisa solucionar problemas complexos e saber trabalhar em equipe.
 

AGÊNCIA CNI DE NOTÍCIAS - Neste cenário de mudanças e com crise, é melhor pensar nos empregos que vão surgir a partir da crise ou ao longo prazo?

GUSTAVO LEAL - O  jovem deve pensar a longo prazo e por isso já deve começar a se capacitar. Por exemplo: programação. Alguns países desenvolvidos, hoje, trabalham com a lógica de programação desde o ensino fundamental. Porque saber programar é como saber ler nesse mundo que a gente está entrando agora. É importante ter essa visão. Outro desafio enorme, não é só para o jovem não. As pessoas vivem cada vez mais, a gente vê esse debate sobre a reforma da Previdência. Se as pessoas vivem mais, elas precisam trabalhar mais. O grande desafio que o país tem é como requalificar essas pessoas que estão ai com 40, 50 anos que estão trabalhando e não vão poder se aposentar e vão precisar trabalhar mais 20 anos, 25 anos. Como preparar essas pessoas para esse novo mundo? É preciso fazer um enorme esforço de requalificação para que não haja uma exclusão tão violenta de pessoas nessa idade. 

AGÊNCIA CNI DE NOTÍCIAS -  O que as pessoas que estão nessa faixa etária devem fazer, então? 

GUSTAVO LEAL - É preciso se requalificar, é aí que entra o SENAI. O SENAI é o grande parceiro da indústria na formação de capital intelectual para as necessidades da empresa. A gente também vai ter que ser criativo para fazer isso tipo de transição. 

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