Mormaço e parceria na floresta

Em artigo publicado na Folha de São Paulo com o líder indígena Almir Suruí, Marcelo Thomé defende que desenvolvimento amazônico depende de parceria e inclusão de povos indígenas

Indígenas ou não, todos nós, brasileiros que vivemos na Amazônia precisamos da mesma oportunidade de produzir para viver, tendo o coração apaziguado pela certeza de que nossos filhos e netos terão essa mesma possibilidade de vida.

Esse sonho pode até parecer uma idealização ancestral de povos originários da nossa grande floresta e dos seus rios, mas na verdade é um princípio básico da condição humana: trabalhar para sobreviver, prosperar em comunidade e legar um mundo melhorado.

Podemos lidar com diferentes processos de produção, desde pequenos negócios comunitários até conglomerados de empresas, mas é preciso respeitar limites, construir consensos e trabalhar em parceria pelo desenvolvimento sustentável da Amazônia, porque a temperatura sobe e o fogo avança na floresta, toma o lugar das águas, espanta as chuvas e seca a terra.

A Organização Meteorológica Mundial emitiu recente alerta sobre fortes altas de temperatura nos próximos cinco anos, apesar dos últimos oito anos terem sido os mais quentes já registrados. A Amazônia sofrerá o impacto, com diminuição de chuvas e prejuízos para a agricultura brasileira. O pacto das Nações para conter o aquecimento global em 1,5 grau Celsius já não é garantia bastante. Cada vez mais, cada um de nós precisamos produzir cuidando melhor do ambiente.


Ninguém deseja ser tutelado e muito menos, assimilado. A verdadeira inclusão é o abraço da aceitação e da igualdade. O povo Paiter Suruí quer conquistar sua autonomia econômica e busca meios e conhecimentos para o uso sustentável da sua terra, com 248 mil hectares entre os estados de Rondônia e Mato Grosso.


Discutir a neoindustrialização não envolve um mero neologismo, mas afastar a ideia de reindustrializar o Brasil repetindo modelos não sustentáveis. Na Amazônia, então, a produção precisa ser descarbonizante e fortalecer a bioeconomia. Isso impõe uma Nova Indústria que associe floresta, agricultura, comércio, serviços e muita inclusão. Sem a conexão do setor produtivo com as comunidades tradicionais jamais seremos ESG nem verdadeiramente sustentáveis.

Povos indígenas foram massacrados, tiveram culturas apagadas e quase sumiram do mapa. Se ainda estão aqui, é porque o Brasil é indígena há mais de 10 mil anos. Já é hora de uma integração verdadeira, honesta, boa para todos e para o ambiente. Temos muito o que aprender uns com os outros e devemos agregar conhecimento científico com saber tradicional.


O Brasil só terá desenvolvimento sustentável se admitir o protagonismo econômico da Amazônia, que só será efetivo com a participação dos povos indígenas e populações tradicionais. O Governo Federal precisa garantir políticas públicas que permitam os estados do Norte superar desigualdades históricas e indicadores sociais humilhantes.


 A colaboração entre o povo Paiter Surui e o Instituto Amazônia+21 e a Federação das Indústrias do Estado de Rondônia, além de inovadora pauta de trabalho, vem declarar superadas velhas formas de permissão para extração de riquezas em terras indígenas e valorizar a capacidade produtiva das populações tradicionais.

Se mormaço da floresta está mais quente, nossa parceria é um sopro novo de esperança na Amazônia.

Almir Suruí é cacique geral do povo Paiter Suruí. 

Marcelo Thomé é presidente executivo do Instituto Amazônia+21 e presidente da Federação das Indústrias do Estado de Rondônia.

O artigo foi publicado no jornal Folha de São Paulo nesta quinta-feira (01/06).

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