Compromisso com o ajuste fiscal é imprescindível, diz a economista Zeina Latif

Em entrevista à Agência CNI de Notícias, Zeina afirma que agenda de reformas do próximo presidente deverá ter eco na sociedade e apoio do setor privado

O equilíbrio das contas públicas deve ser um valor para todos os brasileiros. O alerta é da economista-chefe da consultoria XP Investimentos, Zeina Latif. "Não dá para esperar que o governo trave sozinho essa luta. É preciso ter espírito republicano, senão vamos dar o abraço do afogado. Se cada um pensar no seu setor e não pensar no todo, vamos ter um Brasil que não consegue crescer, que vai ficar pulando de crise em crise", diz a economista nesta entrevista à Agência CNI de Notícias. Segundo ela, a "espinha dorsal" do ajuste fiscal é a reforma da Previdência.

AGÊNCIA CNI DE NOTÍCIAS - O Brasil conseguirá cumprir a nova regra constitucional que impõe limite para o crescimento dos gastos públicos? 

ZEINA LATIF - A regra de ouro, que impede o governo de contrair dívidas para pagar os gastos correntes, será cumprida neste ano.  O orçamento também foi feito observando o teto dos gastos.  O desafio está mais à frente. O próximo presidente da República terá desafios enormes para garantir o cumprimento das regras de ouro e do teto de gastos.

AGÊNCIA CNI DE NOTÍCIAS - Quais as medidas e os compromissos que o Brasil precisa adotar para garantir o equilíbrio duradouro das contas públicas?

ZEINA LATIF - O compromisso com o ajuste fiscal é essencial, independentemente das regras constitucionais. A dívida pública, como proporção do Produto Interno Bruto (PIB), só cresce e a tendência é piorar nos próximos anos, principalmente por causa dos gastos com a Previdência. Não podemos perder a confiança de que o próximo presidente vai avançar na agenda fiscal, de forma a conseguir estabilizar a dívida pública que, como proporção do PIB, tem crescido muito e isso não é sustentável. A disciplina fiscal tem de ser atingida, e a espinha dorsal do ajuste é a reforma da Previdência. 

AGÊNCIA CNI DE NOTÍCIAS - O governo não conseguiu apoio político para aprovar a reforma da Previdência neste ano. Como o Brasil conseguirá vencer as resistências e fazer as mudanças necessárias à sustentabilidade do sistema previdenciário e ao ajuste fiscal?

ZEINA LATIF - Isso é uma agenda para o próximo presidente, que estará em início de mandato. O custo-benefício dele fazer a reforma será diferente do custo do presidente Temer, que já aprovou várias coisas no Congresso. Hoje as condições políticas são diferentes das que teremos no início do próximo governo. Mas isso não significa que a reforma da Previdência é uma agenda fácil. Ela depende de força no Congresso, de muita credibilidade e da capacidade política do governo.

AGÊNCIA CNI DE NOTÍCIAS - O próximo governo terá condição de fazer a reforma da Previdência ideal para o país?

ZEINA LATIF - Podemos discutir quem vai ser o candidato, quais serão as condições políticas do próximo presidente. Podemos tentar ver quem terá melhores condições de fazer uma reforma mais ambiciosa. A preocupação é saber se a reforma a ser aprovada será suficientemente ambiciosa. Se for muito modesta, pode começar a gerar preocupações com a questão fiscal. O tamanho do rombo é muito grande e políticas adicionais de corte de gastos serão necessárias para equilibrar a dívida pública como proporção do PIB. É óbvio que, se a reforma da Previdência for pouco ambiciosa, as cobranças para o governo adotar outras medidas estruturais de corte de gastos serão maiores. 

AGÊNCIA CNI DE NOTÍCIAS - Como os empresários e os demais setores da sociedade podem contribuir para o ajuste duradouro das contas públicas?

ZEINA LATIF - É natural que a sociedade, muito decepcionada com a política, coloque toda culpa do desequilíbrio fiscal no governo. É claro que os líderes políticos têm grande parte da responsabilidade. Mas não dá para a sociedade querer dos políticos mais do que eles podem entregar. Se o próximo presidente apresentar uma agenda de reformas que não encontre eco na sociedade e não tenha o apoio do setor privado, ficará muito difícil.

É essencial que o setor privado defenda a reforma da Previdência e outras reformas estruturais, que defenda uma agenda republicana, que busque o bem comum. O país com as finanças arrumadas tem de ser um valor para todos nós. Não dá para esperar que o governo trave sozinho essa luta.  É preciso ter, de fato, espírito republicano, senão vamos dar o abraço do afogado. Se cada um pensar no seu setor e não pensar no todo, vamos ter um Brasil que não consegue crescer, que vai ficar pulando de crise em crise.

REPRODUÇÃO DA ENTREVISTA - As entrevistas publicadas pela Agência CNI de Notícias podem ser reproduzidas na íntegra ou parcialmente, desde que a fonte seja citada. As opiniões aqui veiculadas são de responsabilidade do autor. Em caso de dúvidas para edição, entre em contato pelo e-mail [email protected]

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