Empresas buscam soluções criativas para melhorar gestão da saúde dos trabalhadores

Novos modelos de contratos com operadoras e prestadores de serviços de saúde e foco na prevenção de doenças estão entre as prioridades de empresas como a Ambev e a Tupy

Em reunião coordenada pela CNI e SESI, especialistas debatem caminhos para melhorar gestão de sistema de saúde suplementar

A indústria de fundição de ferro Tupy, com 8,5 mil funcionários no Brasil, conseguiu reduzir em apenas três anos 24% dos custos com saúde de trabalhadores e dependentes por meio de um modelo híbrido de gestão em que a empresa divide riscos com a operadora do plano de saúde dos funcionários. A Tupy definiu um limite de gastos mensais com exames, consultas e terapias e, ao exceder o valor, a operadora passa a contribuir com parte significativa dos custos.

“Isso obrigou a operadora a melhorar a gestão da rede e se envolver mais com aspectos como custos de materiais usados em procedimentos médico-hospitalares, por exemplo”, destacou o gestor de Recursos Humanos e de Saúde da Tupy, João Deoni, durante reunião do Grupo de Trabalho sobre Saúde Suplementar, em 9 de agosto, em Brasília. O grupo, coordenado pela Confederação Nacional da Indústria (CNI) e pelo Serviço Social da Indústria (SESI), é composto por 41 indústrias com o objetivo de elaborar propostas para o governo para a melhoria do sistema de saúde suplementar. Dos 37 milhões de trabalhadores que possuem plano de saúde, 11 milhões – quase 30% dos beneficiários – são da indústria.

Com a parceria, a própria operadora investiu na construção de uma clínica com mais de 20 especialidades médicas localizada próxima da fábrica da Tupy em Joinville (SC), para atendimento exclusivo de funcionários e dependentes. “Temos a maior policlínica da região com um centro de fisioterapia de recuperação pós-operatória”, relata Deoni. Segundo ele, as mudanças foram bem recebidas pelos funcionários e a comunidade também tem uma percepção positiva da empresa em relação ao cuidado com seus trabalhadores.

As mudanças no sistema de saúde da empresa foram uma resposta ao custo crescente com planos de saúde, cujos reajustes anuais estão acima da inflação, em cerca de 10% ao ano. Aliada à gestão do plano de saúde, a empresa também investe em programas de promoção da saúde e prevenção de doenças, em especial as crônicas, como diabetes, distúrbios respiratórios, doenças cardiovasculares, entre outras.

João Deoni, da Tupy: mudanças na gestão de saúde na empresa foram bem recebidas pelos funcionários

REDE REFERENCIADA – A Fundação Zerrenner, de assistência médica, hospitalar e educacional aos trabalhadores e dependentes da fabricante de bebidas Ambev, renegociou redução dos custos com a operadora de saúde a partir da construção de uma rede referenciada de prestadores de serviços de saúde. Com base em dados, a instituição verificou que construir a rede de prestadores com os 15 hospitais mais usados pelos funcionários da empresa reduziram, em média, 27% do valor pago por paciente adulto em uma Unidade de Tratamento Intensivo (UTI) e em quase 30% o valor com UTI pediátrica e neo-natal. Além disso, passaram a colocar na ponta do lápis os gastos com materiais hospitalares.

De acordo com o superintendente-geral da Fundação Zerrenner, Eduardo Spinussi, a busca por mais eficiência e efetividade no atendimento à saúde tem contribuído até para uma maior satisfação dos mais de 75 mil beneficiários da Ambev espalhados por 2,5 mil municípios brasileiros. “Há casos que financiamos cirurgias de trabalhadores e dependentes em hospitais de referência localizados em grandes centros, pagando todo deslocamento e hospedagem, e tudo isso mais em conta que se o serviço fosse prestado em hospitais na cidade do trabalhador, com serviço inferior”, destacou Spinussi.

Eduardo Spinussi, da Fundação Zerrenner: redução de custos com operadora com a construção de uma rede referenciada de prestadores de serviços de saúde

A gestão de saúde baseada em valor e não em número de procedimentos, como é atualmente, foi defendida pelo presidente da 2iM Inteligência Médica, César Abicalaffe. Ele defendeu que essa é a melhor forma de reduzir custos e entregar os melhores resultados ao paciente. “O modelo de financiamento desse sistema distorce e reforça o modelo assistencial que não tem foco na eficiência, eficácia e segurança”, disse.

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