Consórcios empresariais do SESI/CE já estão em três bairros de Fortaleza e região metropolitana

Iniciativa formou a primeira turma de MBA em Gestão de Organizações Sustentáveis

Iniciativa de estímulo à responsabilidade social empresarial do Serviço Social da Indústria do Ceará (SESI/CE) está rendendo frutos e expandindo suas atividades.

Trata-se do Consórcio Empresarial de Responsabilidade Socioambiental (Ceres), iniciado em 2010, que está tendo sua metodologia disseminada por meio do Guia Ceres, uma publicação elaborada pelo SESI para auxiliar na implantação de consórcios empresariais, com informações detalhadas da metodologia, etapas do processo e aspectos da implantação e desenvolvimento do projeto piloto do consórcio, introduzido nas empresas Resibras, Recamonde, Iracema e Cemec, localizadas em Fortaleza, no bairro Barra do Ceará.
 
Depois do sucesso do projeto piloto, outros dois consórcios foram estabelecidos e mais um está em fase de implantação, além da manutenção do primeiro já realizado, ao qual aderiram as empresas Inace, Pena e Iracema. Em Maracanaú, as empresas Serlares, Gerdau, Marisol, M. Dias Branco, Hidracor, Esmaltec e Cobap estão consorciadas. As empresas Agropaulo/Naturágua, EIM e Lacup, localizadas em Messejana, formam outro consórcio. No bairro Parangaba, as atividades estão em formação.
 
O Ceres tem o objetivo de elaborar uma nova forma de atuação social focada na sustentabilidade ambiental, financeira e social. Atuação que, incorporada aos poucos pelas empresas, hoje faz parte das decisões estratégicas de muitas delas, como afirma o presidente do Conselho Temático de Responsabilidade Social (Cores) da Confederação Nacional da Indústria (CNI), Jorge Parente Frota Júnior: “Antigamente só se falava de crescimento econômico, entretanto aos poucos a responsabilidade social foi sendo incorporada, como também a ambiental e a cultural”. Jorge Parente destaca o caráter inovador da iniciativa: “É preciso buscar permanentemente a inovação. Por meio dela identificamos o valor das coisas”.
 
A gerente do Núcleo de Responsabilidade Social Empresarial do Serviço Social da Indústria (SESI/CE), Cybelle Borges, analisa que cada vez mais os empresários reconhecem o valor das atividades de Responsabilidade Social Empresarial (RSE). “Os empresários estão percebendo a necessidade de trazer o trabalhador para ser participativo, criativo, e a RSE é o caminho.”
 
O consórcio consiste em empresas próximas geograficamente unirem-se em torno da realização de ações baseadas nas metodologias de Gestão da Responsabilidade Corporativa (GRC), Investimento Social Privado (ISP), Produção Mais Limpa (P+L) e Gerenciamento de Projetos de Desenvolvimento (GPD), além de desenvolver a tecnologia social Teia da Vida. Os conhecimentos sistematizados no Guia Ceres são decorrentes do Edital SENAI SESI de Inovação 2010.
 
O SESI propõe essa metodologia por compreender a formação de consórcios como estratégia viável para otimizar recursos e ampliar os impactos sociais, considerando que o atual cenário é caracterizado por impactos modestos dos projetos de RSE diante dos grandes desafios, assistencialismo focado mais na entrega de melhorias do que nas mudanças que garantam a sustentabilidade, desalinhamento e conflitos de intervenções que tendem a ser isoladas e muitas vezes sobrepostas, sem integração com instituições governamentais e não governamentais, falta de capacitação de lideranças comunitárias para busca de soluções autogestoras e sustentáveis e de técnicos de empresas para se relacionar com as comunidades, organizações não governamentais (ONGs) e governo.
 
O processo é todo conduzido pelo SESI, que sensibiliza empresários para a importância do tema, e, após a implantação do consórcio, oferece consultoria e acompanha as etapas. A metodologia do Ceres contempla dois fluxos de consultoria: coletiva e individual por empresa.

Na consultoria coletiva, ocorre a mobilização do grupo de empresas consorciadas e facilitação de encontros de planejamento e monitoramento. A consultoria individual é voltada para o desenvolvimento de capacidades internas em cada empresa participante no tocante à gestão da responsabilidade corporativa, eficiência de recursos, gestão de projetos de desenvolvimento e investimento social privado.
 
As duas consultorias têm etapas bem delimitadas de ação, iniciadas pela sensibilização para a formação do consórcio, que consiste na apresentação da proposta de consórcio às empresas e visitas. Em seguida, as empresas que aceitam se unir em consórcio recebem consultoria em GRC. Com o consórcio formado, definem-se os nomes de cada representante que comporá o comitê técnico.

Esse, com a equipe do SESI, será responsável pelo acompanhamento das atividades de cada etapa do consórcio e por mobilizar os colaboradores em parceria com a área de Recursos Humanos da empresa. O objetivo é se criar em cada empresa um amplo processo de engajamento de todos os colaboradores em atividades socioambientais.
 
O segundo momento da consultoria consiste na realização de diagnósticos sobre a realidade externa, definida antecipadamente pelo comitê técnico, sobre o escopo geográfico do entorno das empresas e sobre a realidade interna, no tocante à gestão e visão dos colaboradores a respeito de sustentabilidade.

Os diagnósticos servirão de base para as etapas de planejamento e implementação, mas também cumprem um papel de sensibilização do corpo diretivo, gerencial e operacional da empresa para os processos que serão desenvolvidos posteriormente.
 
A fase de planejamento identifica oportunidades e pontos a transformar contidos no diagnóstico para iniciar o processo de análise das informações e elaboração de um plano de ação, com auxílio do SESI, envolvendo os aspectos econômico, ambiental e social.
 
De acordo com informações do Guia Ceres, é necessário focar o plano de ação nos pilares da sustentabilidade por meio de programas que compreendam linhas de atuação tanto no âmbito comunitário como no corporativo, com vistas a um relacionamento ético e transparente com todas as partes interessadas. No ambiente comunitário, as ações devem possibilitar ampliação do capital social e empreendedorismo socioambiental das comunidades que vivem no entorno das empresas, de preferência, envolvendo a comunidade interna e suas famílias.

Podem também ser trabalhados programas de produção mais limpa, ampliando assim a vantagem competitiva das empresas e as possibilidades de investimento das ações sociais a partir da redução de custos oriundos da eficiência de recursos. Cada programa escolhido para fazer parte do plano de ação conta com indicadores e metas que auxiliam no monitoramento dos processos, avaliação do andamento dos programas e implementação de ações de ajuste.
 
Em Maracanaú, o consórcio atende a 500 crianças e jovens, de 7 a 17 anos, da comunidade, apoiando-as nas práticas esportivas mediante o projeto Atleta do Futuro. O presidente da Cobap, Paulo Correia, ressalta a importância da ação: “As crianças frequentam a unidade do SESI em Maracanaú, o Clube da Parceria, praticam esportes e se ocupam”. Além do consórcio, o empresário garante que as políticas de responsabilidade social já fazem parte do dia a dia da Cobap.

“Temos um comitê formado por 15 colaboradores que tem como foco promover ações de geração de renda para a comunidade”, explica Paulo. Além dessas atividades, a Cobap coloca à disposição recursos para apoiar pontualmente seis associações, duas instituições e quatro escolas da comunidade, de acordo com necessidades repassadas à empresa.
 
A consultoria do SESI consiste também em ressaltar constantemente a definição de organização utilizada pela Fundação Nacional da Qualidade (FNQ), segundo a qual a empresa se constitui em um organismo vivo em constante relacionamento com um sistema complexo.

Para manter essa vivacidade, o SESI propõe a criação e manutenção da Rede de Sustentabilidade, composta pela alta direção da empresa, média gerência, colaboradores, suas famílias e comunidade. Para envolver cada parte desse sistema, são sugeridas ações de capacitação, operacionalização e monitoramento.
 
Trabalhar e atuar em rede não se trata de uma ciência contemporânea. Vem desde as cidades-estado gregas. A afirmação é do mestre em sustentabilidade pela Fundação Politécnica da Catalunha, Luiz Bouabci. Na Grécia antiga, as praças eram construídas no centro das cidades para reunir as populações em torno de discussões e para proporcionar a interação entre as pessoas, ou seja, fomentar redes. Desde então, tal conceito vem sendo atualizado.

Hoje, com a rapidez da comunicação, criar e manter redes de pessoas tornou-se mais fácil. As famílias e os colegas de trabalho são exemplos de redes. As organizações também possuem essas estruturas de relacionamento de interesse. “Antes, as empresas mantinham-se isoladas, mas atualmente, após o conceito de stakeholders, elas passaram a estabelecer redes de relacionamento”, considera Bouabci. Para ele, as redes corporativas se formam baseadas em três aspectos: confiança, interesse e valores.
 
Capacitação
Como estratégia de capacitação, e em parceria com a Universidade de Fortaleza (Unifor) e com o Instituto Euvaldo Lodi (IEL/CE), foi ofertado no âmbito do consórcio um MBA sobre Gestão de Organizações Sustentáveis para os gestores das empresas participantes e os consultores de cada metodologia, bem como à equipe do SESI envolvida na gestão do processo, totalizando 15 pessoas.
 
Todo o conteúdo do MBA baseou-se na proposta do Projeto Ceres, contemplando as atividades teóricas e práticas a partir das metodologias GRC, GPD, P+L, ISP e GPD. O projeto nasceu da ideia de integrar as empresas e os gestores e para que esses pudessem se apropriar de conhecimento para aplicar na relação com as comunidades, conta o coordenador do MBA, professor Aroldo Paraguassu.

Com 375 horas/aula distribuídas em oito meses de conteúdos teóricos e práticos, a formação exigiu compreensão, tempo e dedicação das empresas e dos alunos. “Foi preciso viver o MBA de verdade, com dedicação inclusive aos sábados. A motivação dos alunos era muito grande.”
 
A motivação pode ser percebida pela empolgação de Dina Marques, da empresa Cemec, ao receber o diploma durante cerimônia na Casa da Indústria. “O projeto teve um impulso diferente a partir do MBA. Houve maior integração entre as empresas e compartilhamento de conhecimento.” Segundo ela, as empresas também passaram a dar ainda mais valor ao projeto, já que perceberam o empenho dos colaboradores em se aperfeiçoar. “Para a minha carreira profissional, o ganho foi muito grande. Eu já tinha conhecimentos nessa área, mas não havia o respaldo acadêmico”, diz Dina Marques.
 
A semente do MBA foi plantada a partir de uma experiência que também contou com o apoio do Departamento Nacional do SESI, em 2009: a formação de uma rede de Agentes de Responsabilidade Social em diversas empresas. Atualmente, essa rede conta com 174 agentes de 101 empresas.

Além da Unifor, no âmbito da criação do MBA, a experiência de criação da metodologia Ceres possibilitou o encontro de diversos outros parceiros: Manegement de Projetos e Processos (MPP), referência nacional em gerenciamento de projetos de desenvolvimento; ORP Consultoria, mentora da tecnologia social Teia da Vida, que embasou a formação da rede de agentes de responsabilidade social; Conselho Temático de Responsabilidade Social (Cores) da CNI; Instituto FIEC de Responsabilidade Social (FIRESO) da FIEC e Companhia Energética do Ceará (Coelce), além de outras instituições, como o Serviço Nacional de Aprendizagem Industrial (SENAI), aliado natural do SESI, principalmente quando o assunto é inovação.

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