Novos diplomatas conhecem a realidade da indústria

Grupo de 28 diplomatas visitou Amazonas, Bahia e Santa Catarina para conhecer os desafios reais e o potencial da indústria brasileira

É responsabilidade dos diplomatas representar os interesses de um país no exterior. Para isso, precisam conhecer muito bem a realidade do que defendem. Sobre a indústria, livros, relatórios e números oferecem noções gerais. Mas, entender o potencial efetivo da produção brasileira e quais desafios ela precisa enfrentar todos os dias para competir com o mundo só é possível na prática. Por isso, uma parceria entre a Confederação Nacional da Indústria (CNI) e o Ministério de Relações Exteriores (MRE) levou um grupo de novos diplomatas, em fase final de formação no Instituto Rio Branco, para conhecer a realidade do setor produtivo brasileiro.

"Os diplomatas têm uma carreira que pode durar até 50 anos. Nesse período, representam o Brasil junto a diversos países e, muitas vezes, exercem funções nas áreas econômica e comercial. Por isso, é fundamental que tenham uma visão completa da indústria brasileira, com suas diferentes realidades, regionais e setoriais", explica o gerente-executivo de Comércio Exterior da CNI, Diego Bonomo.

Durante três semanas, o grupo passou por Amazonas, Bahia e Santa Catarina, estados com matrizes e realidades industriais bem diferentes. Como apoio da Federação de Indústrias do Estado do Amazonas (FIEAM), a delegação conheceu a rede de apoio do Serviço Social da Indústria (SESI) para os trabalhadores e visitou duas grandes fábricas, da Honda e da Jayoro, subsidiária da Coca-Cola no Estado.

O impacto da experiência é bem traduzido pelo diplomata mineiro Pedro Colares, 31 anos. "Manaus é quase uma ilha. A indústria enfrenta um desafio enorme com o sistema logístico de entrada de insumos e escoamento de produção. A indústria tem muito mais potencial se o poder público resolver questões estruturais", comentou. O gerente do Centro Internacional de Negócios (CIN) do Amazonas, Marcelo Lima, destacou a importância da visita para o trabalho dos diplomatas. "Eles saíram daqui com uma visão mais realista do que é o Amazonas, além de conhecerem de perto as características do nosso Polo Industrial. É muito gratificante poder contribuir com a formação desses diplomatas”, afirmou.

NORTE A SUL - O roteiro em Santa Catarina mostrou como a indústria promove o desenvolvimento urbano, do litoral ao interior do estado. A comitiva visitou a Associação Catarinense de Empresas de Tecnologia (Acate), o Sapiens Parque, ambos em Florianópolis; o Instituto SENAI de Inovação em Sistemas de Manufatura, em Joinville; a Weg, em Jaraguá do Sul; a Metisa, em Timbó; a Dudalina, em Blumenau, além do Porto de Navegantes e a Multilog.

O presidente da Federação de Indústrias do Estado de Santa Catarina (FIESC), Glauco Côrte, lembrou que as 52 mil indústrias empregam 770 mil pessoas no estado, quase um terço dos trabalhadores de Santa Catarina. Diante dos rápidos avanços tecnológicos, Côrte chamou a atenção para o papel da inovação e da educação na indústria do futuro. "Segundo estimativas, 65% das nossas crianças vão trabalhar em ocupações que ainda não existem. Esse é o tamanho do desafio que o setor empresarial, o governo e as escolas terão que enfrentar”, destacou.

ROTAS BAIANAS - A diversidade da indústria, mesmo dentro de um estado, é compreendida pelo exemplo da Bahia, última parada da comitiva. Em uma semana, os diplomatas passaram pela Rota do Charuto, que compreende desde o plantio de tabaco à fabricação de charutos, em quatro municípios do nordeste baiano; o polo industrial, em Camaçari, ao norte de Salvador; e o SENAI Cimatec, um dos principais centros de pesquisa e inovação da América Latina. 

A passagem pelas fazendas produtoras de tabaco surpreendeu a diplomata Ana Flávia Bonzanini, de Porto Alegre (RS). "Foi uma grata surpresa conhecer a produção, a beleza das instalações, que parece uma viagem no tempo, combinado com muita modernidade e cuidado com a planta. Foi bom ver um produto de qualidade, muitas vezes desconhecido até dentro do Brasil, que pode ser divulgado como um produto nacional com alto valor agregado", salientou.

O diretor-geral do Instituto Rio Branco, Sérgio Barreiros, acredita que as visitas servirão para aproximar a representação diplomática do setor produtivo do Brasil. “Há uma percepção de que o diplomata brasileiro tem que estar próximo do setor produtivo, de quem gera emprego, paga impostos e gera bem-estar. Enfim, o diplomata brasileiro tem que estar com as antenas ligadas para poder representar bem o Brasil afora e estar sempre apto a perceber oportunidades e melhor servir os interesses nacionais”, concluiu.

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