Política industrial deve ter visão de sustentabilidade e não de dependência, diz diretor-geral da OMC

Embaixador Roberto Azevêdo participou de evento na CNI sobre importância do comércio internacional para a crescimento da economia brasileira. Ele também falou dos avanços da organização e do mecanismo de solução de disputas na OMC

"A CNI está consciente dos desafios para se avançar na liberalização comercial dentro da OMC" - Carlos Abijaodi (à esquerda)

O diretor-geral da Organização Mundial do Comércio (OMC), embaixador Roberto Azevêdo, afirmou que há um amplo espaço para se fazer política industrial. Mas há duas regras mundiais que precisam ser respeitadas: os subsídios e as vantagens tributárias não podem estar relacionados a uma meta de exportação e nem ter vínculo conteúdo local. Azevêdo falou sobre O valor do comércio internacional e da OMC para a indústria, para empresários brasileiros nesta sexta-feira (25), na sede da Confederação Nacional da Indústria (CNI), em Brasília.

“Há um contencioso na OMC que questiona alguns regimes tributários. Em função desse contencioso, se diz que a OMC é contra política de desenvolvimento industrial. Isso não é verdade”, disse. A fala foi provocada pela expectativa da indústria com a divulgação do relatório da OMC, que condenou sete programas de política industrial brasileira, numa ação movida pela União Europeia e Japão. “Tirando esses dois pontos, o compromisso exportador e o conteúdo doméstico, tudo você pode fazer”, explicou o embaixador.

Segundo Azevêdo, para estimular inovação, criatividade e invenções, os países podem ter políticas industriais com marcos regulatórios mais transparentes, estáveis e previsíveis. Ele lembrou também que há outras formas de estimular o comércio, como racionalizar ou reduzir a carga tributária, o custo do trabalho e a burocracia, ou mesmo, enfrentar a corrupção. “São políticas que não vão encontrar limitações na OMC”, garantiu.

O Brasil, diz o diretor-geral, já questionou os subsídios dos países desenvolvimentos diversas vezes. Os casos mais emblemáticos foram as vitórias contra o Canadá no setor aeronáutico e contra os Estados Unidos, no setor de algodão. “Para quê serve a OMC? Por que os países se comprometem com essas regras? Elas oferecem segurança e previsibilidade, as regras evitam a Lei da Selva e limitam as distorções que o poder do mais forte pode criar no comércio internacional", completou.

VISÃO DA INDÚSTRIA – Segundo o diretor de Desenvolvimento Industrial da CNI, Carlos Abijaodi, a indústria brasileira tem uma clara visão de que seguir com as reformas estruturais é o único caminho para melhorar o ambiente de negócios e impulsionar a competitividade internacional. 

“O comércio exterior é peça fundamental nessa recuperação. Somente com maior e melhor inserção da nossa economia no mundo, e não com o fechamento dela, que nossas empresas acessarão mais mercados, serão mais produtivas e serão capazes de competir em condições mais equânimes”, disse Abijaodi. 

Abijaodi explicou que, embora a CNI defenda a negociação de acordos comerciais, o sistema multilateral continua como prioridade na Agenda Internacional da Indústria. “A CNI está consciente dos desafios para se avançar na liberalização comercial dentro da OMC, sobretudo em agricultura, mas valoriza as entregas efetivas e significativas que a Organização tem feito sob o seu comando”, disse referindo-se ao embaixador Roberto Azevêdo.

Entre os avanços, Abijaodi destacou o acordo de facilitação de comércio, que entrou em vigor este ano - e tem aumentado a eficiência aduaneira - e o pacote de Nairóbi, em 2015, com a redução de subsídios às exportações agrícolas e outras formas de distorção de mercado.

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