CNI defende diversificação da pauta exportadora para a China

Embora o país asiático seja o principal destino das exportações brasileiras, 81% desse comércio está concentrado em produtos básicos. O tema está em debate no seminário Brasil-China, promovido pela Folha de S. Paulo

Soja e minérios correspondem a 62% das exportações do Brasil para a China

O diretor de Desenvolvimento Industrial da Confederação Nacional da Indústria (CNI), Carlos Abijaodi, defendeu nesta quarta-feira (5), medidas que contribuam para a diversificação da pauta exportadora do Brasil para a China. Durante o Seminário Brasil-China, promovido pela Folha de S. Paulo, ele afirmou que, embora a China seja o principal destino das exportações brasileiras, com 21,81% vendido pelo Brasil para o exterior, 81% desse comércio está concentrado em produtos básicos. Soja e minérios correspondem a 62% das exportações.

“Nos últimos 10 anos, o comércio entre Brasil e China passou por grandes transformações. A China se tornou o maior parceiro comercial do Brasil. Agora, temos de analisar o conteúdo de nossa pauta exportadora. Nosso superávit de US$ 20 bilhões com a China está concentrado em commodities”, disse Abijaodi, durante o evento que vai até esta quinta-feira (6), em São Paulo.

AGENDA - O diretor defendeu a redução de restrições às exportações brasileiras na China. Segundo ele, a agenda da indústria brasileira inclui medidas nas áreas de acordos; barreiras comerciais; investimentos; facilitação e desburocratização de comércio; defesa comercial; e promoção de negócios.“Não é suficiente diversificar. Existe uma série de restrições que precisamos derrubar para ampliar esse comércio”, afirmou.

Abijaodi citou, por exemplo, que a China aplica tarifas de até 30% ao suco de laranja brasileiro e de até 22% ao café solúvel. Ele afirmou que há ainda uma demora na habilitação de plantas para frigoríficos brasileiros. “Precisamos também remover barreiras aos investimentos do Brasil na China”, disse.

ACORDOS - Na avaliação do diretor, uma medida que poderia contribuir para a desburocratização do comércio exterior entre Brasil e China seria a adoção de Acordo de Reconhecimento Mútuo dos programas de Operadores Logístico Autorizados dos dois países. O programa simplifica os procedimentos aduaneiros no comércio entre empresas, reduz burocracia e contribui para acelerar a cadeia produtiva.

O Brasil possui Acordo de Reconhecimento Mútuo vigente com o Uruguai e planos de trabalhos com Bolívia, Estados Unidos, Argentina e México. Para a CNI, iniciativa similar poderia ser adotada com a China, que também celebrou esse tipo de acordo com outros países, como Cingapura, Coréia do Sul, Hong Kong, Suíça, e União Europeia.

A CNI também defende a celebração de um acordo de previdência social entre os dois países. Esse acordo possibilitará o reconhecimento das contribuições à previdência social dos nacionais de cada um desses países, beneficiando não apenas as empresas atuantes nos mercados brasileiro e chinês, mas principalmente seus funcionários.

Outra medida para melhorar o ambiente comercial seria a facilitação de viagens, com a isenção mútua de vistos de curta duração para fins de negócios. Na visão da indústria brasileira, a mobilidade de pessoas tem sido fundamental para a competitividade das empresas. Esse processo pode contribuir, por exemplo, para que as companhias possam acessar mercados no exterior, encontrar especialistas para seus projetos, interagir com clientes, parceiros e investidores, gerenciar diferentes equipes e implementar seus planos de internacionalização.

GUERRA COMERCIAL – Carlos Abijaodi avaliou que, com a guerra comercial entre EUA e China, o Brasil, assim como outros países, deve perder em função do aumento do protecionismo. No entanto, o Brasil pode também encontrar oportunidades, ao substituir atuais fornecedores do comércio bilateral EUA-China. Cálculos da CNI mostram que a oportunidade para o Brasil no mercado norte-americano se dá com a possibilidade de exportação de 131 novos produtos para os Estados Unidos, como máquinas e aparelhos mecânicos, plásticos e derivados e veículos. Pelo lado chinês, o Brasil pode passar a exportar 121 produtos para a China, da lista dos 469 produtos industriais e agrícolas sobre os quais a China aplicará tarifa adicional para os Estados Unidos.

“Ressalto que tudo isso é teórico. Estudamos à luz de estatística. O mercado, na prática, pode ter comportamento distinto porque vai haver maior número de exportadores querendo exportar para a China e os Estados Unidos”, disse. Abi jaodi observou também que, como haverá um desvio de comércio, o Brasil deve ficar atento porque ouros produtos poderão ser trazido para a América Latina.

Relacionadas

Leia mais

CNI propõe cinco ações para simplificar a carga tributária do comércio exterior
CNI e MDIC firmam acordo para abertura de escritórios regionais do ministério em federações de indústrias
Série especial mostra como o Brasil pode avançar no comércio exterior

Comentários