Instrutor cego encontra realização pessoal dando aulas de informática

“Receber o convite do SENAI para me tornar instrutor e pensar nessa possibilidade de dar aula foi empolgante”, conta Douglas Rodrigo da Silva

"Poder dar aula é uma realização pessoal. O SENAI me abriu as portas. Eu só precisava de oportunidade. E tive” - Douglas da Silva

Turmas inclusivas, aquelas em que estudantes com deficiência dividem o espaço com os outros alunos, não são mais uma novidade nas unidades do Serviço Nacional de Aprendizagem Industrial (SENAI). Já instrutores com deficiência ministrando aulas regulares não são comuns. O alagoano Douglas Rodrigo da Silva, 27 anos, é um desses exemplos. Cego desde antes dos dois anos de idade, o jovem é trainee do Centro de Formação Gustavo Paiva, em Maceió, dá aulas de informática básica da instituição.

“Receber o convite do SENAI para me tornar instrutor e pensar nessa possibilidade de dar aula foi empolgante”, conta. Atualmente, Douglas também treina os estudantes que se preparam para participar da Olimpíada do Conhecimento, a competição nacional de profissões técnicas que, desde 2012, possui modalidades para pessoas com deficiência. “O maior desafio desses meses tem sido o de utilizar recursos visuais nas aulas, como o retroprojetor”, exemplifica ele. “Teve uma vez em que estava passando slides para os alunos rápido demais, mas ninguém falou nada. Depois que percebi, resolvi aplicar alguns testes para ver se todos haviam compreendido o conteúdo”, lembra.
 

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Em geral – conta Douglas – há certa surpresa por parte dos alunos, quase um constrangimento quando entram na sala e vêem que o professor é cego. “Mas não é nada que uma boa conversa não quebre o gelo”, revela.

SONHOS QUE SE REALIZAM - Filho do meio de uma família de três irmãos, Douglas ficou cego com um ano e dez meses de idade por causa de um câncer nas retinas. Desde a quarta série, as aulas da escola foram em turmas inclusivas. “Naquela época, a acessibilidade era muito ruim. Eu aproveitava as coisas que a escola oferecia”, conta. Assim foi até o fim do ensino médio.

Douglas chegou ao SENAI em 2010 para fazer o curso de informática básica. Antes disso, já tinha feito formação em massoterapia e trabalhado por seis meses em uma empresa, atendendo os funcionários. Depois da formação na área de informática pelo SENAI, seguiu para a graduação em sistemas de informação, que deve ser concluído em 2019. "Para mim – revela o jovem – poder dar aula é uma realização pessoal. O SENAI me abriu as portas. Eu só precisava de oportunidade. E tive”, afirma.

Para o futuro, Douglas planeja continuar trabalhando na área de tecnologia da informação, ter sua independência financeira. Na visão da coordenadora do Programa SENAI de Ações Inclusivas (PSAI), Adriana Barufaldi, os desejos de Douglas são sim sonhos. “O trabalho tem um papel importante na criação de nossa identidade, em nosso lugar como cidadãos. E para a maior parte das pessoas com deficiência isso ainda é algo muito distante”, ressalta.

Principal instituição de formação profissional para a indústria, o SENAI tem função importante na empregabilidade das pessoas com deficiência. Desde 1999, atua para qualificar trabalhadores com deficiências física, intelectual, auditiva, visual e apoiá-los na inserção no mercado de trabalho. De 2013 a setembro de 2015, realizou mais de 60 mil matrículas para pessoas com deficiência. As aulas do PSAI contam com professores qualificados para lidar com diversos tipos de deficiência, além de material didático adequado à situação de cada estudante.

Douglas não é o primeiro docente com deficiência do SENAI de Alagoas. O estado já teve instrutores surdos e com síndrome de down, todos dando aulas para turmas inclusivas. Na avaliação de Adriana Barufaldi, a presença de instrutores com deficiência ajuda a aproximar o SENAI ao mundo real, que, cada vez mais, torna-se inclusivo.

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