Discussões no Legislativo sobre reforma tributária devem começar em agosto, afirma Bernard Appy

Em encontro na sede da CNI, economista projeta que mudanças no sistema tributário contribuirão para alta de 10% no PIB potencial num período de 15 anos

O economista do Centro de Cidadania Fiscal (CCiF) Bernard Appy espera que a Câmara dos Deputados inicie a discussão técnica sobre a reforma tributária em agosto. A afirmação foi feita durante encontro na sede da Confederação Nacional da Indústria (CNI), em Brasília, nesta quinta-feira (4).

Segundo Appy, com a aprovação do texto-base da reforma da Previdência em comissão especial na Câmara dos Deputados nesta quinta, abre-se espaço para a discussão das alterações no sistema tributário. 

“A decisão dos líderes da Câmara é que a reforma tributária vai andar atrás da reforma da Previdência. Então, agora que o texto-base da Previdência foi aprovado na comissão especial, vai ser instalada a comissão especial da reforma tributária, muito provavelmente na semana que vem. Em agosto, começam as discussões técnicas”, disse.

O economista participou do 5º Diálogo da Rede Sindical da Indústria, promovido pela Gerência-Executiva de Desenvolvimento Associativo (GDA) da CNI. O encontro teve como tema “Reforma tributária: como resolver as distorções do sistema tributário brasileiro?” e foi transmitido ao vivo para cerca de 700 representantes de federações e sindicatos empresariais da indústria  em todo o Brasil.

Em sua apresentação, Appy defendeu alterações no sistema tributário nacional com o objetivo de promover a competitividade das empresas brasileiras. Para o economista, o efeito final da eventual aprovação da reforma será a melhoria no ambiente de negócios e o aumento da produtividade do país. 

“É muito difícil calcular o impacto preciso dessa mudança na produtividade do Brasil, mas projetamos um aumento de 10% no PIB potencial em 15 anos”, disse Appy. O PIB potencial diz respeito à capacidade de um país crescer sem pressionar a inflação.

Ele considerou que a eventual aprovação da reforma contribuirá para a elevação de investimentos no país, para a transparência no sistema tributário como um todo e, ainda, deve ampliar a cooperação entre os entes da Federação.

IMPOSTO SOBRE CONSUMO - Appy é autor da proposta de reforma tributária incluída no texto apresentado pelo deputado Baleia Rossi (MDB-SP) – a Proposta de Emenda à Constituição (PEC) 45/2019. Uma das principais mudanças é a substituição de cinco tributos cobrados atualmente – PIS, Cofins e IPI, de competência federal; ICMS, de competência estadual; e ISS, municipal – por um imposto direto sobre consumo nos moldes do Imposto sobre Valor Agregado (IVA).

“No Brasil, a gente tem cinco tributos gerais sobre bens e serviços, todos muito ruins. Nenhum deles tem as características de um bom IVA. Com isso, o atual modelo brasileiro representa uma série de consequências negativas para a produtividade do país”, afirmou Appy.

O diretor de Desenvolvimento Industrial da CNI, Carlos Eduardo Abijaodi, afirmou que, após a aprovação da reforma da Previdência, a reforma tributária será o tema mais importante para a economia brasileira.

“O diálogo que realizamos aqui tem como objetivo promover maior aproximação e alinhamento do pensamento dos sindicatos, das federações e da CNI sobre um tema tão relevante que integra a agenda da indústria”, afirmou Abijaodi. “Nossa ideia aqui é discutir as distorções do sistema tributário brasileiro”, disse o diretor.

SIMPLIFICAÇÃO - De acordo com Appy, a proposta em análise no Congresso Nacional prevê um IVA com características reconhecidas mundialmente sobre o que deve ser um bom IVA. Entre elas estão a ampla base de incidência desse imposto, a tributação do destino, a concessão ampla de crédito e a desoneração de investimentos e exportações.

“É uma simplificação do sistema tributário. Mas simplificação não é uma questão estética. Não é porque é bonito simplificar. Temos cinco tributos muito ruins com impacto muito negativo sobre a economia brasileira”, afirmou o economista.

De acordo com Appy, a previsão é que as alterações sejam realizadas ao longo de um período de transição de 10 anos – dois anos de teste mais oito de transição propriamente dita. A projeção, segundo ele, é que, mesmo com todas as mudanças, não haja elevação da carga tributária global.

“Estamos numa situação de crise fiscal aguda que impede a redução da carga tributária. Ao mesmo tempo, a sociedade não consegue mais pagar imposto. A proposta mantém a carga tributária [global] constante”, disse Appy.

CORREÇÃO DE DISTORÇÕES – Na avaliação do gerente de Políticas Tributária e Fiscal da CNI, Mário Sérgio Carraro Telles, a PEC 45/2019 atende a diversos pleitos da indústria no que diz respeito às alterações no sistema tributário, mas ele ressalta alguns “pontos de atenção” para o aperfeiçoamento da proposta. Um deles seria a necessidade de se explicitar condições específicas para incentivos na Zona Franca de Manaus, uma vez que as mudanças podem impactar as indústria já instaladas na região. Telles também chama a atenção para a necessidade de um tratamento especial, conforme previsto na Constituição, para empresas do Simples Nacional.

“A ideia é que possamos fazer ajustes para que o modelo de reforma tributária atenda da melhor forma possível os interesses do setor industrial”, disse.

REPROVAÇÃO DO ATUAL SISTEMA - Pesquisa divulgada pela CNI em março mostra que quase 80% dos empresários das indústrias extrativa e de transformação reprovam o atual sistema tributário brasileiro. Eles avaliam mal todos os seis aspectos apresentados: número de tributos; simplicidade; estabilidade de regras; transparência; direitos e garantias do contribuinte; e segurança jurídica.

A pesquisa também mostra que o ICMS é o que mais afeta negativamente a competitividade da indústria, na opinião dos empresários. Em uma lista de sete tributos, o ICMS foi o mais citado pelas empresas como prejudicial, com 42% das assinalações. Depois dele, o PIS/Cofins e as contribuições previdenciárias (INSS) figuram em segundo lugar como os tributos mais prejudiciais às empresas, empatados com 16% das respostas.

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