Nova tecnologia permite construir uma casa popular em 1,5 hora

Do piso ao acabamento em pouquíssimo tempo. A startup brasileira Tecverde desenvolveu, com apoio do SENAI-PR, um método em que 75% do processo construtivo é industrializado, com peças prontas para a montagem do imóvel

Caio Bonatto, CEO e fundador da empresa, que adaptou um modelo alemão para montar casas populares pré-moldadas

Construir uma casa com peças que já chegam prontas da indústria, tal como se monta um carro. Com essa ideia, a startup paranaense Tecverde se lançou no mercado da construção civil em 2009. O primeiro desafio: encontrar uma tecnologia eficiente e sustentável, que garantisse redução no tempo de execução e na geração de resíduos. “Queríamos trazer a mesma eficiência que a indústria automobilística trouxe para o mercado de carros”, lembra o CEO Caio Bonatto, um dos fundadores da empresa.

A solução veio de um modelo usado na Alemanha e adaptado ao gosto brasileiro. É o sistema light wood frame, executado com painéis industrializados. Um convênio firmado com o Ministério da Economia de Baden-Württemberg viabilizou a transferência de tecnologia. E logo começaram os testes para adaptá-lo ao Brasil, onde as edificações ganharam paredes mais robustas para melhor atender às necessidades do comprador. A iniciativa teve apoio da Federação das Indústrias do Estado do Paraná (Fiep) e do Serviço Nacional de Aprendizagem Industrial do Paraná (SENAI-PR).

O presidente do Sistema Fiep, Edson Campagnolo, explica que a Tecverde é uma prova viva da capacidade do Sistema Indústria para apoiar e incentivar o empreendedor brasileiro.

"A empresa surgiu depois de uma missão organizada pelo Sistema Fiep, que levou empresários e profissionais à Alemanha com o objetivo de identificar alternativas para os setores madeireiro e da construção civil. E, ao longo de todo o seu processo de desenvolvimento, contou com a parceria de técnicos do Senai no Paraná, o que sem dúvidas foi fundamental para a consolidação desse negócio inovador", explica Campagnolo.

Prédio do Núcleo SENAI de Sustentabilidade no Paraná foi construído com método inovador

A primeira fábrica foi inaugurada em 2010, em Pinhais, na região metropolitana de Curitiba, subsidiada pelos alemães e com o aporte obtido por meio de investidores e da Financiadora de Estudos e Projetos (Finep). Um ano depois da fundação, 34 empresas estavam mobilizadas para o fornecimento de matéria-prima e equipamentos, o que criou uma robusta cadeia produtiva no estado.

O modelo de negócio prevê a parceria com incorporadoras ou construtoras. Elas recebem da Tecverde a estrutura da residência montada: paredes com as tubulações internas e a estrutura do telhado. A empresa também auxilia os incorporadores nos projetos e nas documentações necessárias para aprovação da obra.

CONSTRUÇÃO RÁPIDA – Em menos de uma década, a capacidade de produção da Tecverde passou de 34 casas, em 2010, para 3,4 mil casas por ano, em 2018. E agora, com a fábrica ampliada, será possível produzir 4,2 mil unidades em um ano. “Nesses dez anos, melhoramos a tecnologia para sermos cada vez mais competitivos, mas sem perder a qualidade”, afirma Bonatto. A empresa também passou a construir prédios com quatro pavimentos. E cresce três vezes ao ano, de acordo com estimativas para 2019 e 2020. “Ritmo de empresa de tecnologia”, comenta o CEO da Tecverde.

O sistema Tecverde consiste em 75% das etapas alocadas em ambiente fabril, com controle de qualidade e eficiência do produto e dos processos. Um exemplo da inovação desse sistema é a possibilidade de visualizar, por meio de um celular, as estruturas hidráulica e elétrica internas das paredes. Para isso, basta tirar foto do QR Code que vem no frame. “Também é possível saber a origem de cada material usado na parede, com isso conseguimos fazer um recall caso necessário”, detalha Bonatto.

Em menos de uma década, a capacidade de produção da Tecverde passou de 34 casas, em 2010, para 3,4 mil casas por ano, em 2018

O frame utiliza madeira estrutural de florestas plantadas com dupla secagem e tratada com preservante químico, garantindo durabilidade equivalente à dos sistemas convencionais. A estrutura dos painéis é executada com perfis de madeira estrutural com tratamento, sobre os quais é aplicado OSB e uma membrana hidrófuga, material que protege contra o calor e vapor d’água, permitindo a respiração das parede. Para acabamento, são aplicadas as placas cimentícias do lado externo e gesso cartonado na parte interna, promovendo um ambiente fácil de higienizar, com maior conforto térmico e acústico ao proprietário.

O processo de fabricação reduz em 85% a geração de resíduos e em 90% o uso de recursos hídricos. Estudos da empresa mostram que 13 mil toneladas de CO2 deixaram de ser emitidos, assim como 22,1 mil toneladas de resíduos deixaram de ser produzidos pelo sistema Tecverde, que já contabiliza 130 mil metros quadrados construídos. Um exemplo dessas edificações é o Núcleo SENAI de Sustentabilidade, no Paraná. O projeto foi reconhecido pelo RCE Awards, prêmio do Instituto de Estudos Avançados para a Sustentabilidade da Universidade das Nações Unidas.

A tecnologia também acelera em até quatro vezes o tempo de execução da obra. Caio Bonatto garante que uma casa é montada em 1,5 horas. Um prédio de quatro pavimentos, em 10 dias. O custo para o proprietário é similar ao da construção de alvenaria financiada por programas sociais do governo.

A empresa recebeu em 2018, ainda, o prêmio CBIC de sustentabilidade e inovação por construir uma casa em apenas 10h, com todos os acabamentos, pronta para morar.

Prédio com quatro pavimentos pode ser construído em 10 dias. O processo de fabricação reduz em 85% a geração de resíduos e em 90% o uso de recursos hídricos

FINANCIAMENTO IMOBILIÁRIO – Em 2011, a regulamentação para financiamentos imobiliários passou a permitir que bancos financiem casas feitas com estrutura em wood frame. Dois anos depois dessa regra entrar em vigor, a tecnologia Tecverde foi autorizada pelo Ministério das Cidades para construir habitações de interesse social. A empresa é a única construtora a ter tais homologações com esse sistema construtivo. “Tudo o que se constrói no Brasil deve atender a uma regulamentação muito rigorosa. É uma forma de proteger nosso mercado de tecnologias que são simplesmente baratas, sem qualidade”, avalia o CEO.

Uma nova fábrica foi instalada em 2014, com maior capacidade de produção e linhas totalmente automatizadas, sendo a maior indústria de casas em wood frame da América Latina. Caio Bonatto destaca que a Tecverde é referência em soluções eficientes e sustentáveis, sendo reconhecida no mercado pelo empreendedorismo de seus sócios e equipe, assim como pela capacidade de inovação.

Atributos que despertaram o interesse do fundo norte-americano GEF (Global Environment Fund), especializado em investimentos em empresas de alto crescimento e que se destacam pela eficiência socioambiental.

“Esta parceria mostra que estamos idealizando o futuro da construção civil em nosso país”, diz Caio Bonatto.

E como o CEO da Tecverde vê a inovação no Brasil? “Os empreendedores precisam ter ousadia e coragem para fazer diferente. Assim, poderemos construir um país melhor”, afirma o empreendedor, que fundou a Tecverde com dois colegas de faculdade uma década atrás.

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