Queremos voltar a ter esperança

Segundo o presidente da CNI, Robson Braga de Andrade, o país necessita de medidas com capacidade para melhorar o ambiente de negócios

O Brasil vive um momento sem paralelos na sua história recente ao enfrentar a rara confluência de uma crise ética, política e econômica. Estamos à espera de uma saída para essa conjuntura adversa, que gera graves consequências e testa a nossa resistência há mais de um ano. No cenário político, a radicalização de posições se acirrou, a ponto de inviabilizar o diálogo entre governo e oposição, essencial para a aprovação de medidas que levem o país a avançar. Agora, todas as atenções estão voltadas para o processo de impeachment que tramita no Congresso Nacional, em detrimento das reformas que poderiam fazer a economia voltar a crescer.

Quanto à ética na vida pública, estamos em um período desalentador. As notícias de casos de corrupção se sucedem, envolvendo um número cada vez maior de pessoas. As instituições encarregadas das investigações têm cumprido seu papel para esclarecer fatos e punir culpados. A má conduta de alguns e a paralisia decisória que assolou o país prejudicam a economia, já abalada por medidas equivocadas. O resultado é a mais profunda recessão em 25 anos: o PIB encolheu 3,8% em 2015.

A indústria caiu 6,2%, enquanto os investimentos tiveram uma retração de 14,1%. Esse desempenho catastrófico deve se repetir neste ano. A população voltou a sofrer com dois flagelos. A inflação, que pensávamos ter deixado no passado, ficou em 10,67%. Esse índice é o mais alto desde os 12,53% de 2002. O desemprego registrou uma taxa média de 8,5% em 2015. Na raiz dos problemas econômicos, está a desorganização das contas públicas.

O sacrifício para equilibrar os orçamentos, feito por toda a sociedade ao longo de dez anos, foi desperdiçado. A Lei de Responsabilidade Fiscal vem sendo ignorada. O déficit primário do governo foi de R$ 116,6 bilhões em 2015, o equivalente a 1,97% do PIB. A Previdência Social registrou um buraco de R$ 85,8 bilhões, numa expansão de R$ 29,1 bilhões em relação a 2014.

A indústria está extremamente apreensiva com o caos econômico, ético e político que enfrentamos. Não podemos aceitar que os interesses maiores dos brasileiros sejam postos em segundo plano em favor de disputas de poder, que têm norteado parte dos homens e das mulheres públicos deste país. As instituições, com ênfase no Congresso Nacional e no Supremo Tribunal Federal, devem, com estrito respeito aos preceitos da lei e da Constituição Federal, encontrar solução para o atual impasse.

Precisamos restabelecer plenas condições de governabilidade, independentemente de qual seja o resultado do processo de impeachment. Que a solução seja rápida, tanto quanto a recomposição da iniciativa política. O Brasil exige moralidade na condução dos assuntos públicos, eficiência na atividade administrativa e celeridade na adoção de medidas que estimulem o crescimento da economia.

A Confederação Nacional da Indústria (CNI), principal representante do setor no país, exige grandeza, desapego e espírito público de homens e mulheres que ocupam os altos cargos da República, de modo que possamos recuperar o clima de normalidade.

Precisamos nos concentrar nas reformas estruturais que nos permitirão trilhar novamente o caminho do desenvolvimento, em especial as mudanças nos campos tributário, previdenciário, regulatório e de relações de trabalho. O país necessita de medidas com capacidade para melhorar o ambiente de negócios. Recentemente, apresentamos ao governo um conjunto de 94 propostas que podem retirar os obstáculos ao crescimento, ao fortalecimento das empresas e à criação de empregos. É preciso adotá-las. Não dá para continuar adiando a solução dos problemas.

A comunidade industrial se mantém firme no propósito de colaborar com as instituições para superar a crise, aumentar a competitividade da economia e recuperar a confiança no futuro. Precisamos de um horizontemais claro e promissor. Queremos voltar a ter esperança em dias melhores.

O artigo foi publicado nesta segunda-feira (4) no jornal Folha de S. Paulo.

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