Indústria da construção está comprometida com planejamento e desenvolvimento de cidades inteligentes

Entre as iniciativas do setor está o apoio a projetos de planejamento urbano em 20 municípios envolvendo representantes do governo e da sociedade

A gestão municipal fragmentada, o uso de recursos públicos de forma ineficiente e a infraestrutura urbana deficiente são alguns dos principais desafios para a difusão das cidades inteligentes no Brasil. Para reverter esse quadro, a Câmara Brasileira da Indústria da Construção (CBIC), em parceria com o Serviço Social da Indústria (SESI), desenvolve a iniciativa O Futuro da Minha Cidade, que  propõe um modelo de trabalho entre representantes do governo e líderes comunitários de 20 municípios para planejarem o futuro das cidades, levando em consideração aspectos de sustentabilidade.

Essa é uma prática relatada no estudo Construção sustentável: A mudança em curso, que integra a série de 14 publicações setoriais apresentadas na sexta edição do CNI Sustentabilidade. De acordo com o setor, as cidades inteligentes trarão estímulo para que a indústria da construção inove e produza de forma mais eficiente, com menor impacto ambiental e gerando melhoria na saúde e bem-estar da população.

O setor da construção é o maior consumidor de recursos e de matérias-primas, absorvendo 50% da produção global de aço e, a cada ano, 3 bilhões de toneladas de matérias-primas são usadas para fabricar produtos de construção em todo o mundo. Além disso, de 40% a 60% do volume de resíduos em centros urbanos maiores que 500 mil habitantes são oriundos de processos produtivos.

Para se preparar para um futuro mais sustentável, a indústria da construção mapeou os principais desafios que precisam ser superados no curto prazo, como a melhoria das condições de trabalho e a qualificação dos profissionais do segmento, a redução nos índices de informalidade, que está em torno de 77%, e o aumento da produtividade pela inovação, buscando consolidar a qualidade, o desempenho e a sustentabilidade em processos e produtos. Estimativas globais apontam que o aumento da produtividade de 1% no setor gera economia de US$ 100 bilhões por ano e reduz drasticamente os impactos ambientais.

AVANÇOS – Entre os principais avanços do setor no Brasil, está na gestão de resíduos em canteiros de obras por meio de treinamentos para a correta destinação dos materiais. Além da redução de desperdícios, que contribui para reduzir custos com destinação, a preocupação com a gestão de resíduos se reflete em obras mais organizadas, melhoria da limpeza e na queda no número de acidentes. No entanto, a maior parcela dos resíduos do setor em centros urbanos – cerca de 70% – tem origem em reformas e autoconstrução. Para isso, o setor defende que sejam realizadas gestão integrada do governo municipal com a iniciativa privada e a sociedade.

Para o presidente da Comissão de Meio Ambiente da Câmara Brasileira da Indústria da Construção (CMA/CBIC), Nilson Sarti, a Indústria da Construção considera que os aspectos da sustentabilidade são fundamentais para a competitividade, desde os primeiros temas relacionados com as atividades da construção civil, como o licenciamento ambiental e resíduos, além da discussão sobre cidades sustentáveis e a gestão urbana. “A Sustentabilidade impulsiona a inovação, estimula a busca por novas tecnologias e promove o surgimento de novos nichos de mercado”, afirma Sarti. Ele explica ainda que os clientes e a sociedade buscam nos empreendimentos produtos e serviços relacionados à construção diferenciados, promovendo mudanças no setor. “Os princípios da construção sustentável são realidade no mercado atual”, destaca o presidente da CBIC.  

"A Sustentabilidade impulsiona a inovação, estimula a busca por novas tecnologias e promove o surgimento de novos nichos de mercado” - Nilson Sarti, presidente da Comissão de Meio Ambiente da Câmara Brasileira da Indústria da Construção (CMA/CBIC)

A cadeia produtiva da construção também tem buscado alternativas para o reaproveitamento e reciclagem de resíduos, como o uso de agregado de concreto em obras de pavimentação. Isso desperta o interesse do setor privado em instalar unidades de reciclagem de resíduos. “Ainda é necessário, todavia, maior empenho na busca de soluções para outros tipos de resíduos para atender à logística reversa”, destaca o estudo.

O setor também adere, cada vez mais, a certificações e ferramentas que oferecem informações sobre o desempenho ambiental, entre, as quais está a avaliação do ciclo de vida (ACV), que analisa impactos ambientais ao longo do ciclo de vida de materiais e produtos. Além disso, vem buscando contemplar no projeto e desenvolvimento de obras aspectos para melhorar a eficiência energética e o uso racional de água.

DESAFIOS – Mesmo com os avanços, a indústria da construção apresenta desafios para contribuir ainda mais com o desenvolvimento sustentável. Estudo realizado pelo Fórum Econômico Mundial em 2016 apontou os principais desafios em seis áreas fundamentais: entrega de projetos no prazo e dentro do orçamento; redução de custos do ciclo de vida das construções e reutilização de materiais; neutralização de carbono e redução do desperdício durante a construção; criação de infraestrutura e habitação de alta qualidade e acessíveis; construção de infraestrutura e edifícios resistentes às mudanças climáticas e desastres naturais; e e criação de infraestruturas e edifícios que melhoram o bem-estar dos usuários.

Para apoiar o setor em relação a essas tendências, a CBIC desenvolve 20 projetos prioritários nas áreas de meio ambiente e sustentabilidade, mercado imobiliário e infraestrutura urbana, inovação e tecnologia, infraestrutura, responsabilidade social e segurança e saúde no trabalho. Na área ambiental, as iniciativas são voltadas, principalmente, à disseminação de boas práticas em gestão de recursos hídricos e de uso de energias renováveis. Além disso, a CBIC  disponibiliza em seu site publicações relacionadas aos temas prioritários para deixar empresas do setor antenadas com as tendências.

CIMENTO – Integrante da cadeia produtiva da indústria da construção, o setor de cimento no Brasil apresenta avanços na agenda da sustentabilidade. Estudos internacionais apontam que aproximadamente 5% das emissões de gases de efeito estufa no mundo provêm da produção de cimento. Segundo o Inventário Nacional de Gases de Efeito Estufa, no Brasil esse valor corresponde à metade da média mundial (2,6%). Isso se deve a uma série de ações adotadas pelo setor, que vem contribuindo para a redução das emissões de CO2 e que posicionou a indústria do cimento nacional como referência no combate às emissões de gases de efeito estufa. Entre essas ações destacam-se medidas de eficiência energética, a crescente utilização de combustíveis alternativos e a busca pela ampliação do uso de adições e substitutos de clínquer.

Praticamente todo o cimento no país é produzido por via seca, processo industrial que garante a diminuição do uso de combustíveis em até 50% em relação a outros processos. Além disso, cresce a substituição de combustíveis fósseis por fontes renováveis como resíduos ou biomassas. Atualmente, essa taxa de substituição é de cerca de 20%.

Na gestão de resíduos, o setor se utiliza, cada vez mais, do coprocessamento, em que se consome grandes volumes de resíduos, evitando a disposição em aterros. Atualmente, existem no país 37 plantas licenciadas para realizar o coprocessamento. Em 2015, foram coprocessadas 1,07 milhão de toneladas de resíduos provenientes de diversos setores industriais, 24% como substitutos de matérias-primas e 76% como insumo energético, representando uma substituição térmica de aproximadamente 9,7%. De 2000 a 2015, houve aumento de 500% no uso de resíduos em fornos de clínquer.

INICIATIVAS EXITOSAS – A indústria de cimentos também contribui com os objetivos de desenvolvimento sustentável (ODS), da Organização das Nações Unidas (ONU). No estudo Indústria Brasileira de Cimento – Base para a construção do desenvolvimento, da série de 14 publicações do projeto CNI Sustentabilidade, o setor enumera algumas ações empresariais que contribuem para a conservação ambiental, melhoria da qualidade de vida das pessoas e aumento da eficiência e produtividade. Confira alguns exemplos:

InterCement – A empresa adota ferramenta para monitorar indicadores de gestão da água nas unidades de produção. Atualmente, a InterCement possui três unidades localizadas em zonas de estresse hídrico, que representam 20% de sua captação de água. Mais de 70% das unidades estão equipadas com sistemas de recirculação de água. A empresa é signatária do WBCSD Pledge for Access to Safe Water, Sanitation and Hygiene at the Workplace, que prevê a implementação até 2018 de ações que garantam acesso à água potável, ao saneamento e às condições de higiene nos locais de trabalho e áreas corporativas.

Além disso, em 2015, a InterCement desenvolveu uma ferramenta destinada a facilitar o desenvolvimento de Planos de Gestão de Biodiversidade e um guia para apoiar as unidades na contratação de serviços especializados para adequação das pedreiras aos requisitos de conservação da biodiversidade. Atualmente, todas as pedreiras da empresa são monitoradas por meio dos Sistemas de Informação Geográfica, em que são assinaladas as zonas sensíveis. Em todas as comunidades onde tem unidade, a InterCement desenvolve projetos com a comunidade para o desenvolvimento social, ambiental e econômico.

Votorantim – Em 2015, foi desenvolvido o Guia de Boas Práticas Ambientais na Mineração, em parceria com a Sociedade Brasileira de Espeleologia e a Reserva da Biosfera da Mata Atlântica, para proteção de cavernas e da Mata Atlântica. A Votorantim Cimentos também adaptou uma ferramenta para mapear unidades que se localizam em áreas de escassez hídrica. Em 2015, essa indústria criou objetivos a serem implementados até 2020 para o uso eficiente da água e, no ano passado, foram implementadas fórmulas que permitem estimar a quantidade de água na produção de cimento nas 26 fábricas espalhadas pelo Brasil, o que ajuda a empresa a melhorar sua gestão hídrica.

Ciplan Cimentos – Em 2016, inaugurou um galpão dentro da fábrica para separação, condicionamento, prensagem e destinação dos resíduos produzidos pela cimenteira. Na nova instalação, que conta com a parceria com a organização não-governamental Recicle a Vida, há baias para destinação correta dos resíduos de papel, metal, óleo e graxa, borracha, plástico e outros. Além disso, a empresa desenvolve o projeto Mãe Ambiente, que capacita mulheres para produzir bolsas, sacolas, ecobags e mochilas recicladas do  saco de cimento.

SAIBA MAIS - Faça o download dos documentos que apresentam as ações da indústria brasileira para o desenvolvimento sustentável, divididos por setores de atuação, no site do CNI Sustentabilidade.

SÉRIE COMPLETA - Acompanhe a série Indústria Sustentável na página do especial da Agência CNI de Notícias.

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