Entenda por que materiais avançados são importantes para a indústria

Esses materiais são aqueles capazes de melhorar ou criar novos materiais. Das oito inovações estudadas pelo projeto Indústria 2027, essa tecnologia é a que tem impactos em um maior número de sistemas produtivos no presente

Em 1907, o químico Leo Baekeland criou algo que transformaria completamente a indústria. O belga naturalizado americano desenvolveu a baquelita, o primeiro plástico totalmente sintético e comercializável. Desta primeira invenção, vieram inúmeras outras, como o poliéster, o náilon, o teflon e o silicone. O plástico, talvez, seja o exemplo mais poderoso para explicar a importância dos materiais para a vida moderna. Por isso, os materiais avançados - tanto a criação de matérias totalmente novas quanto o aprimoramento das que já existem - são um dos alvos dos pesquisadores do Projeto Indústria 2027

Não é à toa que eles já aparecem como o eixo de inovação que impacta o maior número entre os 10 setores da indústria avaliados pelo projeto - química, petróleo e gás, aeroespacial e bens de consumo. Afinal, para se criar praticamente tudo –  do digital ao concreto –  é preciso partir de um material.   

Antonio José Félix de Carvalho, professor da Universidade de São Paulo (USP), é o especialista no tema dentro do Indústria 2027. Nesta entrevista, ele explica melhor o que são e qual é o impacto da evolução dos materiais avançados para a indústria e para os consumidores. Confira abaixo:

PROJETO INDÚSTRIA 2027 - O que são materiais avançados?

ANTONIO CARVALHO - Materiais avançados implicam a capacidade de se construir novos materiais ou substituir outros. Ou seja, melhorar ou criar materiais. Assim, surgem novas tecnologias com menor custo e com materiais aprimorados. Existe uma diversidade muito grande de materiais, e praticamente tudo o que se fabrica requer materiais. Eles estão em tudo.

Na segunda metade do século XX, o setor automobilístico viu a entrada de materiais poliméricos (como os plásticos e materiais compósitos) e as indústrias tiveram de se adaptar a essas inovações. Se, até então, os automóveis tinham pouco plástico, esse material apareceu em partes do motor, no painel, no banco do veículo, etc. Os polímeros contribuíram, por exemplo, para a diminuição do peso dos veículos. Em embalagens, os polímeros reduzem o custo deste produto e melhoram a performance.

PROJETO INDÚSTRIA 2027 - O senhor pode dar exemplos de materiais avançados?

ANTONIO CARVALHO - Metais, cerâmicas e polímeros. Nanofibras de celulose, que são fibras com dimensões muito reduzidas, estão presentes em fibras têxteis, revestimentos e embalagens e eletrônica orgânica. Elas servem como reforço de polímeros usados em bens de consumo. Outro tipo são os vidros metálicos, que têm propriedades como plasticidade e alta resistência mecânica. Eles estão em aeronaves e carcaças de equipamentos eletrônicos, por exemplo. Os materiais avançados também estão em equipamentos eletrônicos, telas de computadores e ímãs permanentes. A tecnologia possibilita a criação de materiais menos tóxicos, com menor custo e boas propriedades. 

PROJETO INDÚSTRIA 2027 - Como os materiais avançados se aproximam e se distanciam da nanotecnologia?

ANTONIO CARVALHO - Existem similaridades pelo fato de a nanotecnologia estar associada à possibilidade de mudar características de materiais que já existem. Um nanomaterial pode ser um material avançado, mas nem todo material avançado é um nanomaterial, até porque a nanotecnologia é a manipulação de materiais em escala nanométrica. 

PROJETO INDÚSTRIA 2027 - O que podemos esperar desta inovação nos próximos 10 anos?

ANTONIO CARVALHO - Novos materiais implicam novos produtos e processos. Desse avanço, podem surgir tecnologias que ainda não estão disponíveis. Um bom exemplo é o vidro dos smartphones. A partir dele, foi possível produzir aparelhos muito mais finos e leves, o que revolucionou a indústria eletrônica.

SAIBA MAIS - O Indústria 2027 é um estudo que avalia o impacto de oito tecnologias em 10 setores da indústria. O projeto é uma iniciativa da Confederação Nacional da Indústria (CNI) em parceria com pesquisadores da Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ) e da Universidade Estadual de Campinas (Unicamp). Acesse o site do projeto para conhecer todos os detalhes!

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